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Tony Goes

PC Siqueira foi vítima de uma armação?

Mesmo sem ter sido indiciado, influenciador não se livrou da fama de pedófilo

Paulo Cezar Siqueira, o PC Siqueira, foi encontrado morto dentro de seu apartamento - Reprodução/Instagram
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São Paulo

Menos de uma semana depois do suicídio de Jéssica Canedo, o tribunal da internet conseguiu clamar mais uma vítima. Um dos primeiros influenciadores a alcançar a fama no Brasil, Paulo Cezar Goulart Siqueira –mais conhecido como PC Siqueira– foi encontrado morto em seu apartamento. Ele tinha apenas 37 anos de idade.

Os internautas se dividiram. Muitos lamentaram mais essa tragédia, mas não faltou quem celebrasse a morte de PC. Para muita gente, ele era um pedófilo, e pedófilos são a Geni das redes sociais. Vale jogar pedra, cuspir, sapatear em cima do caixão. Pedófilos não têm direito a nada, nem mesmo a defesa.

Mas PC era mesmo pedófilo? Toda sua má fama advinha de uma mensagem direta enviada a um amigo não identificado vazada pelo perfil Exposed Emo no X (antigo Twitter), em 2020. Nela, o influenciador dizia que havia recebido uma foto de uma menina de seis anos nua, que reenviou para o tal amigo –e cancelou o envio logo em seguida.

O escândalo foi enorme e imediato. A polícia entrou em cena, revirou computadores e celulares de PC Siqueira, e não encontrou um único indício de pornografia infantil. Ele nem mesmo foi "inocentado", como dizem por aí, porque sequer foi indiciado. A polícia considerou que a tal mensagem enviada ao amigo não era prova suficiente de nada.

PC veio a público mostrar que havia várias inconsistências no material vazado pelo Exposed Emo e que ele estaria sendo perseguido pelo governo Bolsonaro. Pouca gente lhe deu ouvidos. Uma vez acusado de pedofilia, pedófilo para sempre, e a verdade que se dane.

Mesmo fora da mídia, PC Siqueira não teve refresco dos haters, que continuaram perseguindo-o até o fim. Sofrendo de depressão há anos, com problemas com álcool e drogas e sem maiores perspectivas profissionais, o youtuber sofreu mais um golpe na semana anterior à sua morte: o rompimento com a namorada.

Ele precisava de muito mais ajuda do que jamais chegou a ter, mas não é este o assunto da coluna. O que pretendo discutir aqui é outro ponto: PC tinha razão quando se dizia perseguido pelo grupo político de Bolsonaro?

Um longo fio do cientista social Leonardo Rossatto no X afirma que quem vazou a mensagem de PC foi o jornalista Erlan Bastos, candidato derrotado a deputado federal pelo Ceará e então próximo à família Bolsonaro. Rossatto não cita suas fontes, e seu fio, por si só, não prova nada. Mas a narrativa como um todo faz sentido.

O objetivo do vazamento era simples: enlamear a reputação de um dos poucos influenciadores que se atreveu a descer do muro na eleição presidencial de 2018 e se declarar radicalmente contra o então candidato da extrema direita.

Se for verdade, saiu melhor que a encomenda. As acusações de pedofilia, mesmo que jamais provadas, destruíram a carreira de PC Siqueira. Sem a guarida de uma empresa como a Mynd ou a Play9, especializadas em gerir as carreiras de influenciadores, PC perdeu todos os contatos e foi relegado ao ostracismo.

Não foram só os haters que "mataram" PC. O cara realmente tinha muitos problemas e atitudes bastante questionáveis. Mas não resta dúvida de que a campanha de ódio cobrou um preço altíssimo.

Sua morte precoce é mais um exemplo do poder destruidor da internet. Agora, fazer o quê? Campanhas de conscientização? Exigir censura nas redes? Nada disso me parece exequível ou com chances de sucesso. Outros mártires virão. É bom estarmos preparados.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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