Vitória sofrida do Brasil ameaça festa de despedida de Galvão Bueno
Narrador foi da euforia à impaciência sem deixar espaço para comentaristas falarem
Em meio às batucadas e cantorias no Brasil e no Qatar, tem mais uma festa rolando nesta Copa do Mundo: a despedida de Galvão Bueno da Globo. A emissora resolveu dar um bota-fora memorável a seu mais importante locutor esportivo, que deixará seus quadros depois deste Mundial.
O embate com a Suíça, que terminou em 1 a 0 nesta segunda-feira (28), foi a 50ª partida do Brasil numa Copa narrada por Galvão na Globo. A transmissão começou com um clipe em homenagem a ele, reunindo alguns de seus momentos mais marcantes em outros jogos e culminando com o golaço de Richarlison no jogo contra a Sérvia na quinta passada (24).
Na sequência, Galvão entrou ao vivo com sua euforia habitual. Chamou o Olodum, carregou nos erres e traduziu em palavras a alegria otimista que sempre nos invade em momentos como este. Uma saudade antecipada bateu no peito do telespectador.
Para a festa ser completa, faltava apenas mais uma vitória brasileira. Só que o primeiro tempo foi mediocremente equilibrado, com as duas equipes jogando bem aquém do esperado.
Galvão Bueno foi perdendo a paciência. Reclamou de Tite, de quase todos os jogadores, do gramado ruim do estádio 974. Desandou a falar, tirando o espaço dos comentaristas Ana Thaís Matos e Júnior.
O intervalo foi penoso. O desânimo teimava em despontar nas falas do venerando narrador. Ainda havia a esperança de que repetiríamos a performance contra os sérvios, quando nossa seleção cresceu no segundo tempo.
E de fato crescemos, mas nem tanto. Um gol de Vini Jr. foi anulado, por impedimento. A princípio Galvão vibrou, é claro, mas logo percebeu que o VAR zeraria o placar novamente, e reagiu com sobriedade. Sem raiva nem desespero, só com a experiência de quem já passou por 13 Copas do Mundo.
O gol finalmente veio, pelos pés de Casemiro, desta vez sem sombra de dúvidas. Galvão comemorou, como todos nós, e a partir daí o tom de sua locução ficou mais entusiasmado. Mas sem exageros: mesmo ganhando, era óbvio que o Brasil não estava em sua melhor forma. Terminamos todos satisfeitos, pois o Brasil se classificou para a próxima fase, mas sem aquela sensação de alma lavada.
Vamos falar a verdade. Foi um jogo chato, como admitiu o próprio Casemiro na entrevista que deu logo após o apito final. Se foi difícil de assistir, imagine narrar. E Galvão Bueno superou este desafio com galhardia, justificando sua fama e sua longevidade.
O cara tem detratores. É alvo de piadas e memes, e há quem não veja a hora de ele pendurar as chuteiras. Mas são jogos desafiadores como esse Brasil x Suíça que dão a um veterano como Galvão Bueno a chance de fazer o que ele faz de melhor: verbalizar as emoções do torcedor.
Isso não quer dizer que Galvão foi perfeito. Os comentaristas foram jogados para escanteio, especialmente a ótima Ana Thaís Matos. Tomara que este deslize seja corrigido nos próximos jogos. Até porque esta Copa é um divisor de águas na transmissão da Globo, com mulheres como Karine Alves, Renata Silveira e a própria Ana Thaís assumindo um protagonismo inédito.
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