Contrariando expectativas, show de abertura da Copa foi espetacular e emocionante
Grandes estrelas não deram as caras, mas não fizeram falta
Dua Lipa avisou que foi convidada, mas não iria. Rod Stewart fez o mesmo. Até Shakira, uma espécie de cantora semi-oficial da Copa do Mundo, fez questão de deixar claro que não cantaria na abertura do torneio deste ano. A razão de todos eles é a mesma: o histórico de desrespeito aos direitos humanos pelo país-sede, o Qatar.
Parecia que um desastre se avizinhava. A organização do evento não divulgou quem se apresentaria na cerimônia deste domingo (20). Maluma, talvez? O colombiano fez um show na abertura da Fan Fest de Doha, para uma plateia composta por 90% de homens, e ainda deixou uma entrevista quando o repórter perguntou se ele não se sentia estranho por cantar numa ditadura.
No entanto, mesmo sendo um dos intérpretes de "Tukoh Taka", a canção-tema oficial desta Copa, ao lado de Nicki Minaj e da libanesa Myriam Fares, ele não deu as caras na abertura. Nem os Black Eyed Peas, nem Robbie Williams, que também tiveram seus nomes aventados.
Quem apareceu foi o sul-coreano Jung Kook, um dos sete integrantes da boy band BTS –o único astro da música internacional presente. Mais uma prova incontestável do "soft power" da Coreia do Sul, e também da influência duradoura de Michael Jackson –o jeito de Jung Kook dançar remete imediatamente ao do falecido Rei do Pop.
Isto não quer dizer que o show foi chocho, pelo contrário. Foi uma superprodução digna dos Jogos Olímpicos, que costumam realizar cerimônias de abertura muito mais impactantes que as das Copas do Mundo.
Pela primeira vez, animais vivos participaram de um evento como este: camelos, um dos símbolos do mundo árabe. Também houve uma bela coreografia que pregava unidade e respeito à diversidade –algo em falta entre os anfitriões– e dança folclórica beduína, só com homens de espada na mão.
Quando Morgan Freeman entrou em cena, temi que ele fosse falar na famigerada "consciência humana" – ainda mais na data em que se celebra o Dia da Consciência Negra no Brasil. Mas o ator americano recitou um texto bonito, recheado de platitudes, mas sem nada que eriçasse sensibilidades.
Ao lado dele apareceu o influenciador digital Ghanim al-Mutfah, que não tem os membros inferiores do corpo. A representatividade também foi mencionada no discurso do emir Tamim bin Hamad al-Thani. Vai ser lindo se o Qatar passar da teoria à prática.
Diversos cantores qataris também se apresentaram, dando um delicioso sabor árabe à festa. Mas o clima de exaltação não era apenas à cultura local: num dos momentos mais legais, mascotes de todas Copas entraram em campo, ao som de um medley das canções-temas de cada torneio.
Claro que não poderia faltar La’eeb ("craque", em árabe), o mascote oficial. Contrariando a tradição, ele não é um bicho, mas um objeto: um ghutra, o tradicional adereço de tecido que os homens da Península Arábica usam na cabeça. Mas parece mesmo um fantasminha, e eu não pude deixar de pensar que La’eeb também representa as almas das centenas de operários imigrantes que morreram durante a construção dos novos estádios do Qatar.
Estou exagerando na implicância. A cerimônia foi espetacular e emocionante, surpreendendo quem esperava por um fiasco. No final, o ponto baixo veio da transmissão da Globo: os locutores ainda insistem falar o tempo todo, como se estivessem no rádio. "Uma sinfonia de música e efeitos", disse um deles em dado momento, como se não houvesse imagens. Ah, vá.
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