No embate entre Galvão Bueno e Casimiro, todos saíram vitoriosos
Estilos contrastantes atraíram gerações diferentes de espectadores
Quem se saiu melhor no grande embate desta quinta-feira (24)? Galvão Bueno ou Casimiro?
Ah, sim, também rolou o jogo de estreia do Brasil nesta Copa do Mundo, contra a Sérvia. Uma partida tensa, que felizmente terminou em vitória para a nossa seleção.
Mas, enquanto a bola rolava no gramado resplandecente do estádio de Lusail, também acontecia o primeiro embate direto entre dois gigantes. De um lado, Galvão Bueno, o mais importante locutor esportivo brasileiro, posição que ele ocupa há pelo menos 30 anos. Do outro, Casimiro Miguel, youtuber do qual muita gente só ouviu falar neste ano, mas com milhões de seguidores em diversas plataformas.
Galvão, aos 72 anos, está em sua 13ª e última Copa como profissional. Depois de muito drama nos bastidores ao redor da renovação de seu contrato com a Globo, o veterano finalmente foi para o Qatar, de onde narrará apenas os jogos do Brasil. Ainda teve sua viagem adiada por causa da Covid, que o levou a ser hospitalizado na semana anterior à abertura da Copa.
Casimiro, aos 29, está transmitindo sua primeiríssima Copa. Mas engana-se quem esperava por um esquema semiamador, com o influenciador comentando o jogo em seu quarto. Cazé, como também é conhecido, ultrapassou esta fase há algum tempo. Seu canal Cazé TV, que pode ser visto no YouTube e no Twitch, tem uma estrutura de dar inveja a muitas emissoras convencionais.
Também tem mais audiência. No começo do segundo tempo de Brasil x Sérvia, havia impressionantes 3,2 milhões de pessoas assistindo ao jogo pela Cazé TV –o equivalente a 4,5 pontos no PNT (Painel Nacional de Televisão) do Kantar Ibope, que mede a audiência de 15 capitais brasileiras. Um número respeitável para qualquer canal que não for a Globo.
A internet vibrou quando Galvão Bueno soltou uma de suas expressões-clichê, "energia contagiante", ao chamar imagens do Olodum em Salvador. "Finalmente começou a Copa!", celebraram muitos internautas.
Mas Galvão também tem muitos detratores, e vários deles estavam acompanhando a partida pela Cazé TV. A barra de comentários, que subia aceleradamente ao lado da tela principal do YouTube, estava cheia de ataques ao locutor da Globo.
Aliás, essa barra é um dos chamarizes da Cazé TV, dando aos internautas uma sensação de interatividade. Sensação fugaz, entretanto: eram tantos comentários chegando ao mesmo tempo que a velocidade da barra não permitia que se lesse direito quase nenhum deles.
O curioso é que o próprio Casimiro apareceu pouco durante a transmissão de seu canal. Suas intervenções como comentarista foram esparsas, e quem mais falou foi mesmo o ótimo Luís Felipe de Freitas, ex-TNT Sports, que narrou o jogo com uma vibração digna do rádio.
Vez por outra, também escapavam palavrões entre a galera da Cazé TV, algo impensável na veneranda Globo. Mais um sinal de que Casimiro e sua turma estão mais alinhados com a linguagem da garotada de hoje do que a emissora líder da TV aberta.
Mas houve um quesito em que a Cazé TV se deu mal. Seu sinal no YouTube tinha um delay de cerca de 30 segundos em relação ao que se via na Globo. Acompanhar as duas transmissões ao mesmo tempo teve algo de surreal, pois em vários momentos não pareceu que era exibido o mesmo jogo. E o que dizer dos gols, que aconteciam antes na TV aberta?
Ao contrário do que muitos esperavam, Galvão não cometeu nenhuma gafe notável. Também pegou leve com Neymar, com quem se indispôs recentemente. Ouvi-lo narrando o jogo levou o espectador a uma zona de conforto. Conhecemos seu estilo ufanista, seus cacoetes, suas implicâncias. Saber que em breve não o ouviremos mais na Globo cria um emotivo clima de despedida.
A Cazé TV, por seu lado, é o futuro que já começou. Sua transmissão não tem nada de revolucionário, mas são os pequenos detalhes que a transformam num veículo atraente para a próxima geração. Casimiro é simpático e tem grande credibilidade, e dá o tom para o canal que leva seu nome.
No apito final, todos saíram vitoriosos, atendendo a públicos distintos, de gerações diferentes. Mas é bom ter em mente que Galvão está de saída, e Casimiro acaba de entrar em campo.
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