Trajetória conturbada de Anne Heche chega ao fim de maneira trágica
Carreira da atriz foi prejudicada por causa do namoro com Ellen DeGeneres
Houve um momento, no final dos anos 1990, que a carreira de Anne Heche ia de vento em popa. Depois de se destacar em "soap operas", as novelas vespertinas da TV americana, e até mesmo ganhar um prêmio Emmy por interpretar gêmeas em uma delas, "Another World", a atriz parecia destinada a se tornar uma grande estrela de cinema.
Hollywood achou que Anne tinha todas as qualidades para ser uma protagonista. A partir de 1997, ela começou a acumular participações em projetos de prestígio: o policial "Donnie Brasco", ao lado de Al Pacino e Johnny Depp; o filme-catástrofe "Volcano"; a comédia política "Mera Coincidência", com Robert De Niro e Dustin Hoffman; o terror "Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado"; o remake de "Psicose", em que fazia o papel da mulher assassinada no chuveiro.
A consagração definitiva parecia próxima depois que Anne Heche fez par romântico com Harrison Ford na comédia de ação "Seis Dias, Seis Noites". Mas o que a deixou realmente famosa foi o namoro com a atriz e apresentadora Ellen DeGeneres, que saíra do armário em 1997.
Hoje em dia, atrizes como Kristen Stewart e Sarah Paulson conseguem se assumir lésbicas sem que isto abale em nada suas carreiras. No entanto, 25 anos atrás, o mundo ainda não estava acostumado com celebridades abertamente homossexuais. Anne Heche simplesmente parou de ser chamada para bons papéis no cinema.
O relacionamento de Anne e Ellen terminou em 2000 –segundo a última, por iniciativa da primeira. No dia seguinte ao rompimento, Anne foi encontrada vagando desorientada nos arredores da cidade de Fresno, na Califórnia, dizendo se chamar Celestia (Celeste é seu nome do meio) e estar procurando por sua espaçonave.
Este episódio colou em Anne Heche a fama de desequilibrada, da qual ela jamais se livrou. A atriz chegou a dar o título de "Call Me Crazy" (em tradução livre, "pode me chamar de louca") à sua autobiografia, lançada em 2001. No livro, ela narra sua infância pobre e a morte do pai, que era gay, pela AIDS.
Anos mais tarde, Anne Heche acusaria o mega agente Harvey Weinstein de abuso sexual, se juntando ao coro de dezenas de outras atrizes.
Depois desse curto período de notoriedade, nunca mais Anne Heche voltaria a brilhar com a mesma intensidade. Houve inúmeras tentativas de relançar sua carreira, como o papel principal na série cômica "Men in Trees", traduzido como "Homens às Pencas", de 2006 –que, no entanto, teve apenas duas temporadas.
Mesmo assim, ela nunca parou de trabalhar. Nos últimos anos, fez dezenas de participações em telefilmes e séries de TV. Não era mais uma estrela, mas estava em vias de se tornar o que os americanos chamam de "character actor": o ator que se destaca em papéis de coadjuvante. Uma função, aliás, onde ela mesma dizia se sentir mais confortável.
Anne se casou com o cameraman Coleman Lafoon em 2001, e teve um filho com ele no ano seguinte. Os dois se separaram em 2007. Um segundo casamento, com o ator James Tupper, rendeu a ela um segundo filho. O casal se divorciou em 2018. Nenhuma dessas separações teve destaque na mídia.
Na sexta passada (5), Anne Heche finalmente voltou às manchetes. O Mini Cooper que ela dirigia se chocou em alta velocidade contra uma residência no bairro de Mar Vista, em Los Angeles, e foi engolido pelas chamas. A casa também pegou fogo, sofrendo danos consideráveis.
Anne foi levada a um hospital com queimaduras graves por todo o corpo. Lá, descobriu-se que ela tinha lesões no pulmão e no cérebro. Também foi constatada a presença de cocaína na corrente sanguínea da atriz.
Anne Heche entrou em coma e permanece inconsciente. Na manhã desta sexta (12), um representante da família comunicou à imprensa que ela não deveria sobreviver. Horas depois, foi confirmada sua morte, após o desligamento dos aparelhos que a mantinham viva.
Um desfecho trágico de uma trajetória conturbada. Anne Heche não teve o estrelato que lhe foi prometido, e sua vida se encerra de maneira abrupta, aos 53 anos.
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