Tony Goes

Longe de ser irrelevante, notícia sobre namoro de Camila Pitanga é positiva

Atriz não merecia ser exposta, mas reagiu com naturalidade e altivez

A atriz Camila Pitanga apresenta o Superbonita, do GNT
A atriz Camila Pitanga apresenta o Superbonita, do GNT - Sofia Paschoal/Divulgação
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Antes de mais nada, quero deixar algo bem claro: Camila Pitanga foi vítima de uma violência nesta segunda-feira (11). Sem seu consentimento, a atriz teve sua vida pessoal exposta na imprensa e nas redes sociais. Não importa o que ela esteja fazendo ou deixando de fazer na intimidade. Vida pessoal é isto mesmo: pessoal. Não diz respeito ao público.

Mas, depois que inúmeros veículos (inclusive o F5) noticiaram que Camila Pitanga está namorando a artesã Beatriz Coelho, a atriz tomou uma atitude surpreendente. Através de sua assessoria, confirmou tudo. Mostrou que não tem nada a esconder, muito menos do que se envergonhar.

Aí, como sempre, os comentários explodiram na internet. Os homofóbicos se dividiram em dois grupos. Tem os explícitos, que pregam o fim dos tempos e desejam o fogo do inferno ao casal. E tem os implícitos: aqueles que defendem que a notícia é irrelevante. “O que muda na minha vida saber que essas duas andam juntas?”, perguntam alguns. “Este jornal já foi melhor!”.

O curioso é que muitos simpatizantes da causa LGBT+ também enveredam por esta linha de raciocínio. “Como que, em pleno 2019, duas mulheres namorando ainda são notícia?”, espantam-se eles. De fato, já existem inúmeros casais do mesmo sexo no showbiz, e o impacto de novas revelações é cada vez menor.

Pois eu discordo de todos esses grupos. Acho que a notícia de que Camila Pitanga está namorando uma mulher é mais do que relevante: é positiva. O fato de ela mesma ter confirmado o rumor torna tudo ainda melhor. Não há culpa, não há desonra. Muito pelo contrário.

Mas por que tal notícia seria positiva? Porque mostra, para milhões de jovens espalhados por todo o Brasil, que não existe uma só maneira de vivenciar a sexualidade. Foi-se o tempo em que ser homossexual, bissexual ou qualquer outra variante da heteronormatividade era uma condenação automática à marginalidade.

Igrejas e grupos conservadores ainda pintam gays, lésbicas e transexuais como pessoas problemáticas, doentias e infelizes. Apontam para os altos índices de suicídio entre os LGBT+, como se a repressão que eles mesmo promovem não contribuísse para isso.

Muitos adolescentes LGBT+, especialmente os que vivem em cidades pequenas ou comunidades fechadas, sentem que estão sozinhos no mundo. Que não existem ninguém como eles. Que são aberrações.

Famosos como Camila Pitanga, Reynaldo Gianecchini e Nanda Costa mandam a mensagem oposta. Ao assumir relacionamentos com pessoas do mesmo sexo, eles mostram que é perfeitamente possível ser feliz, bem-sucedido e bem ajustado, sem precisar reprimir seus desejos mais íntimos.

E isso é tudo o que os reacionários mais temem. Quando um homofóbico reclama que “este tipo de notícia não é relevante”, na verdade ele está demonstrando o medo que sente. Porque sabe que, no fundo, tal notícia funciona como a temida “propaganda gay”: um exemplo positivo de vida fora dos padrões rígidos da sociedade patriarcal. Um estímulo à rebelião.

Num país em que uma ministra de Estado defende que "menino azul e menina veste rosa", é importantíssimo que celebridades mostrem que não há nada de mais em ser homo ou bissexual. Ninguém é obrigado a fazê-lo: cada um sabe onde lhe aperta o calo. Mas os que se expõem são dignos de aplausos. Logo em seguida, merecem a nossa indiferença. Que vivam e amem em paz.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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