Tony Goes

Fernanda Lima e Tatá Werneck não competem entre si nem são diretamente comparáveis

Apresentadoras do Amor & Sexo e do Lady Night têm estilos complementares

Fernanda Lima, apresentadora de Amor e Sexo
Fernanda Lima, apresentadora de Amor e Sexo - Mauricio Fidalgo/Globo
 
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Na minha coluna de sexta passada (14), aqui no F5, eu dizia que o “Lady Night”, o talk show que Tatá Werneck comanda no canal pago Multishow, é mais subversivo do que o “Amor & Sexo”, cuja 11ª temporada terminou de ser exibida pela Globo na terça (11).

No domingo, encontrei com duas amigas que participam de grupos no WhatsApp dos quais Fernanda Lima também faz parte. E elas me contaram que a apresentadora ficou incomodada com o meu texto. Na discussão em torno dele, houve até quem dissesse que eu estaria adotando um comportamento tipicamente masculino, ao jogar uma mulher contra outra.

Eu não conheço Fernanda Lima, mas sou seu fã desde os tempos da MTV Brasil (onde ela trabalhou com meu irmão Zico Goes, que era diretor de programação da emissora). Também sou fã do “Amor & Sexo” desde a primeira temporada.  Fiquei ainda mais depois que o programa adotou o formato atual, com plateia e jurados, e se tornou o foro mais importante de discussão sobre sexualidade da televisão brasileira.

Sei que Fernanda Lima está passando por um momento delicado. Que tem recebido uma avalanche de críticas pelas redes sociais, e até ameaças de violência física contra sua família. O ataque que Fernanda sofreu do cantor Eduardo Costa —pelo qual ele agora está sendo processado por ela– foi apenas o de maior repercussão.

Por isto, eu também fiquei incomodado quando soube que estava, de certa forma, contribuindo para as agruras de Fernanda. E jamais foi esta a minha intenção.

Eu não quis promover uma disputa entre o “Lady Night” e o “Amor & Sexo”. São programas muito diferentes, que não se prestam a uma comparação direta. Não dá para dizer que este é melhor do que aquele: ambos são muito bons dentro daquilo a que se propõem. Com altos e baixos, como é natural para qualquer atração que atravesse várias temporadas.

Pretendi ainda menos comparar Fernanda Lima a Tatá Werneck. As duas são fabulosas naquilo que fazem. Top de linha, mesmo: ninguém as supera. E uma não compete com a outra, é claro.

Minha argumentação, na verdade, seguia outra linha. Eu estava era criticando a obtusidade das patrulhas conservadoras, que dispararam suas baterias contra o “Amor & Sexo” sem perceber a mensagem subliminar – e subversiva – do “Lady Night”.

“Amor & Sexo” é um programa que veio se politizando nos últimos anos, tomando posições corajosas e contundentes. Acho até que exagerou na seriedade: algumas edições dessa temporada não tinham a galhofa, a sacanagem, o balacobaco de outros tempos. E isto justamente no momento em que o clima cultural do Brasil mudou. O resultado foi uma queda brusca de audiência.

“Lady Night” não tem nada de explicitamente político. Os convidados são atores, cantores e celebridades em geral. Mas Tatá Werneck não se faz de rogada: pula em cima de quase todos, arranca beijos, se insinua, faz piadas de duplo sentido. Mostra-se uma mulher sexualmente liberada, sem vergonha dos próprios desejos. Tudo em clima de brincadeira, mas nem por isto menos verdadeiro.

Tatá Werneck vem sendo criticada em alguns círculos por não ter se posicionado nas últimas eleições. Eu endosso essas críticas. Acho que, a médio e longo prazo, essa omissão cairá mal em seu currículo. Mas, à sua maneira, ela também está lutando contra o sistema machista e patriarcal contra o qual Fernanda Lima ergueu a voz. As duas estão na mesma trincheira.

Fernanda está muito mais exposta do que Tatá, porque o “Amor & Sexo” é exibido pela emissora aberta de maior audiência do Brasil. O talk show de Tatá, apesar do sucesso e dos elogios da crítica, ainda é um fenômeno de nicho, transmitido por um canal pago.

Isto pode mudar a partir de janeiro, quando a Globo passar a exibir episódios do “Lady Night” no lugar do “Conversa do Bial”, que entrará em recesso por algumas semanas. Mesmo assim, duvido que os mais reacionários percebam que Tatá Werneck se comporta não como um objeto sexual, mas como um sujeito. Perspicácia nunca foi o forte dessa turma.

Triste é o país em que a simples defesa da igualdade de direitos é tida como uma ofensa por alguns setores da sociedade. Mas feliz é o país que tem figuras como Fernanda Lima e Tatá Werneck. As duas remam, de maneiras diferentes, contra a maré de caretice. Quero remar com elas – estamos todos no mesmo barco.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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