Tony Goes

Homenagem a Fernanda Montenegro emocionou, mas o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro continua longe do público

Cerimônia de 2018 foi melhor que a anterior, e mudanças estão a caminho

Bruno Barreto, Fernanda Montenegro e Vinícius Oliveira
Bruno Barreto, Fernanda Montenegro e Vinícius Oliveira - Mariana Vianna/Divulgação
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Os Estados Unidos têm o Oscar. A França tem o César. A Espanha tem o Goya. E o Brasil tem o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, que parece nome de páreo no Jockey Club.
 
Poderíamos ter o Grande Otelo: a estatueta que premia os melhores do ano segundo a Academia Brasileira de Cinema já leva o nome do ator, e sua forma é baseada em uma caricatura dele desenhada por Ziraldo.
 
Só que não. A Academia insiste em usar um nome longo, de pouco apelo de marketing, para o maior de seus eventos.
 
Por outro lado, a cerimônia deste ano, exibida nesta terça (18) pelo Canal Brasil, foi bem melhor do que o desastre de 2017. É verdade que alguns equívocos se repetiram: os indicados de diversas categorias ainda foram anunciados todos juntos, e depois, revelaram-se em bloco os respectivos vencedores. Quando estes subiram ao palco para os agradecimentos, o pobre telespectador nem lembrava mais quem tinha ganho o quê.
 
Pelo menos, dessa vez foram exibidos trechinhos de todos os trabalhos concorrentes. E não havia mais a tela translúcida que Bia Lessa colocou no ano passado entre o palco e a plateia (e a câmera, e o espectador), que dava a sensação de que a premiação se passava em uma galáxia distante.
 
Este ano houve ritmo e algum humor, com esquetes musicais razoavelmente engraçados, conduzidos por Laila Garin e Charles Fricks. Ponto para Ivan Sugahara, que dirigiu a cerimônia.
 
Também houve homenagens especiais a dois mortos ilustres: os diretores Roberto Farias (que presidiu a Academia durante muitos anos) e Nélson Pereira dos Santos. Mas o ponto alto da noite foi mesmo o tributo a uma pessoa ainda muito da viva: Fernanda Montenegro.

É até de se admirar que a premiação mais importante do cinema nacional só tenha lembrado da nossa única atriz indicada ao Oscar em sua 17ª edição. Mas a espera valeu a pena. Fernanda fez tudo o que se espera de uma grande dama. Recebida no palco por Vinícius de Oliveira – que contracenou com ela ainda garoto, em “Central do Brasil” (1999) – ela começou contando como ele foi descoberto pela produção daquele filme, ignorando generosamente que o foco ali era outro.
 
Depois, leu em um papel os nomes de todos os diretores de cinema com quem trabalhou na vida. Abraçada por Zelito Vianna, Cacá Diegues e Luiz Carlos Barreto, ajoelhou-se quando este último se prostrou diante dela e criou o suspense de que os dois, já de idade bem avançada, se estatelariam no chão.
 
Da premiação em si, não há o que reclamar. “Bingo – o Rei das Manhãs” levou oito dos 15 troféus a que estava indicado, inclusive melhor filme e melhor ator (para Vladimir Brichta). Bons títulos como “A Glória e a Graça”, “Como Nossos Pais” e “Divinas Divas” também foram lembrados.
 
Como não podia deixar de ser, a política também se fez presente. Quase todos os premiados soltaram palavras de ordem contra um certo candidato à presidência da República. O mais memorável foi Brichta, que fez referência ao longa em que trabalhou: “Bingo, sim; Bozo, sim; Bozo... naro, não!”.
 
Para 2019, estão previstas algumas mudanças. A mais importante é realizar a cerimônia no começo do ano, quando a memória dos filmes indicados ainda estiver fresca (e, quem sabe, alguns ainda em cartaz).
 
Repito sempre: um prêmio de cinema só é relevante se for conhecido pelo público, e tiver a capacidade de influir na carreira de um filme. O Grande Prêmio do Cinema Brasileiro nunca foi nada disso.
 
Mas, se respeitar o espectador que acompanha tudo de casa e mudar o nome oficialmente para Grande Otelo, quem sabe?

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas Notícias