Prazer, Pabllo Vittar é irregular, mas tem momentos emocionantes
Estreia do programa realça rede de afeto que ajudou no sucesso da cantora
Era praticamente inevitável que Pabllo Vittar ganhasse programa próprio no Multishow. O canal pago é rápido em produzir atrações protagonizadas pelas estrelas em evidência do pop brasileiro, como Anitta Entrou no Grupo ou Os Gretchens.
O primeiro dos quatro episódios de Prazer, Pabllo Vittar foi ao ar nesta terça pela emissora, às 22h. Uma mistura de musical, “talk show” e “reality” documental, com depoimentos lacrimejantes dignos das “histórias de superação” que os vespertinos dominicais costumam apresentar.
Assunto não falta. Pabllo tem carisma, é desenvolta em frente às câmeras, chora e ri nas horas certas. E sua vida é mesmo incrível: a drag queen vinda dos rincões do Brasil que, em pouco mais de um ano, se transformou em um fenômeno de popularidade (e também o centro de algumas polêmicas nas redes sociais).
Mas Prazer, Pabllo Vittar é meio desconjuntado. O roteiro anda em zigue-zague, sem uma estrutura coerente ou um encadeamento lógico dos quadros. A produção modesta também deixa tudo com um certo jeito de improviso.
Logo após o número de abertura —“K.O.”, o maior hit de Pabllo, que entrou até para a trilha da novela “O Outro Lado do Paraíso” (Globo)— a cantora recebeu sua primeira convidada: Preta Gil, que se tornou sua madrinha artística, depois das duas gravarem um dueto.
E aí, durante alguns minutos, o foco caiu sobre Preta, que contou passagens engraçadas de sua carreira e trocou juras de amor eterno com a anfitriã. OK, Preta é sempre divertida - mas Pabllo não é exatamente uma grande entrevistadora, e sua própria história é mais interessante que a de seus entrevistados.
Felizmente, essa história logo começou a ser contada, através de entrevistas com a família biológica da artista —a mãe e as irmãs— e a família “do coração”, formada por seus produtores, empresários e agregados.
Então, aos poucos, foi ficando claro que Pabllo Vittar só chegou aonde chegou porque sempre teve uma rede de afeto e apoio. Claro, ela sofreu bullying no colégio e teve várias oportunidades negadas. Mas, ao contrário de inúmeros gays e travestis que foram expulsos de casa e caíram nas drogas e na prostituição, Pabllo esteve sempre cercada de amor.
Essa foi a mensagem do programa de estreia: sem amor ninguém faz nada, por maior que seja o talento (e o de Pabllo é enorme).
Mas um pouquinho mais de foco e um dedinho a menos de pieguice teria melhorado o resultado final. Tampouco faria falta o momento em que Pabllo pregou diretamente às câmeras, exortando a aceitação de pessoas LGBTQ por suas famílias: lindas palavras, mas uma puxada de breque de mão àquela altura do programa.
Apesar dos defeitos (todos sanáveis), Prazer, Pabllo Vittar é importante: afinal, trata-se da primeira atração em horário nobre da TV brasileira ancorada exclusivamente por uma drag queen, ainda que em um canal pago.
Seria ótimo se os detratores da cantora assistissem a algum episódio. Eles talvez continuem não gostando de sua música (ninguém é obrigado a gostar de nada). Mas sua trajetória merece respeito, como ela mesma diz.
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