Tony Goes

Na sociedade pós-Carmen Mayrink Veiga, todo mundo é colunista de si mesmo

A socialite brasileira socialite Carmen Mayrink Veiga, posa para foto em 1992
A socialite brasileira socialite Carmen Mayrink Veiga, posa para foto em 1992 - Folhapress


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Carmen Mayrink Veiga, morta no domingo (3), não era a única remanescente da era de ouro do colunismo social brasileiro. Algumas de suas contemporâneas, como Lourdes Catão ou Teresa Souza Campos (hoje Orleans e Bragança), ainda estão entre nós.

Mas hoje todas elas levam vidas discretas, distantes da badalação de outrora. E não deixaram "descendentes”: não existem mais as então chamadas "locomotivas da sociedade". Damas endinheiradas que davam festas suntuosas, ditavam moda e eram conhecidas pelo povão, como se fossem estrelas da TV.

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A alta sociedade tradicional, que floresceu até meados da década de 1980, foi substituída por um mix de artistas populares, esportistas, "reis do camarote" e blogueiras fashion.

O sumiço do "society" tradicional fez com que também desaparecessem seus cronistas. Os grandes jornais não cobrem mais batizados nem bailes de debutantes, e só mandam fotógrafos a algum casamento quando houver políticos ou atores famosos perto do altar.

Mas quem precisa de colunistas sociais em tempos de Instagram e Facebook? Hoje em dia ninguém mais precisa ser "bem-nascido", ou mesmo exercer algum cargo importante, para brilhar em sociedade, como se dizia antigamente. Basta saber administrar seu perfil nas redes sociais.

Muitos internautas viraram colunistas de si mesmos, cobrindo em tempo real cada instante de suas vidas. Detalhes desinteressantes viraram motivos de ostentação: a viagem de férias, o prato no restaurante e até mesmo momentos de suposta intimidade.

Já chegamos ao ponto em que atrizes conhecidas postam fotos nuas de si mesmas, esvaziando a ação dos "hackers" e redefinindo o que pode ser chamado de privacidade.

Algumas celebridades delegam esta tarefa a assessores de imprensa. Outras escrevem do próprio punho no Twitter, nos brindando com erros de português e ideias atravessadas. Quase todas arrebanham milhares de seguidores, que se dividem entre “haters” e puxa-sacos. 

Mas o verdadeiro diferencial das redes sociais é seu acesso democrático. Teoricamente, qualquer pessoa pode alcançar a fama através delas. E de fato muitas conseguem, haja vista a quantidade de "personalidades da rede" que têm verdadeiros fã-clubes sem precisar de uma profissão definida.

É o caso de Day McCarthy, a autoproclamada “socialite” que despontou para a infâmia aos disparar ofensas raciais contra Titi, filha dos atores Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank. Em priscas eras, uma figura como ela não passaria nem pela porta dos fundos do Copacabana Palace.

Uma dondoca dos anos 1970 talvez estranhasse a tecnologia de hoje, e torceria o nariz para os penetras que invadiram seu mundinho. Mas uma coisa não mudou: o desejo de ostentar continua o mesmo. E está mais difundido do que nunca.


Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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