Tony Goes

Nova minissérie da Globo, 'Treze Dias Longe do Sol' é um 'Poseidon' em terra firme

O ator Selton Mello em cena do seriado "Treze Dias Longe do Sol", da Globo
O ator Selton Mello em cena do seriado "Treze Dias Longe do Sol", da Globo - Divulgação Globo


  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Agora dá para confirmar: as séries dramáticas da Globo deram um salto de qualidade em 2017. Não exatamente no sentido dos valores de produção, que já eram altos, mas no teor dos assuntos abordados.

Pelo menos por enquanto, foram deixadas de lado as adaptações de clássicos da literatura (como a belíssima "Ligações Perigosas", exibida em 2016) ou as fantasias exacerbadas (a mal-sucedida "Supermax", do mesmo ano).

É o Brasil contemporâneo, com suas mazelas e conflitos, que explode em títulos realistas como "Sob Pressão", ambientada em um hospital público, ou "Carcereiros", sobre o cotidiano apavorante de uma penitenciária.

Esta última só irá ao ar no ano que vem, mas sua primeira temporada já se encontra na Globo Play. Também é o caso da minissérie "Treze Dias Longe do Sol", coproduzida em parceria com a O2 e prevista para ser exibida em janeiro, mas com seus dez episódios já disponíveis para os assinantes da plataforma.

Escrita pelo casal Elena Soárez e Luciano Moura e com direção-geral deste, o programa tem evidente inspiração em fatos reais, como o desabamento do edifício Palace II, em 1998, no Rio de Janeiro, ou o caso dos 33 mineiros que ficaram soterrados por mais de dois meses no Chile, em 2010.

A trama gira em torno do colapso de um centro médico ainda em construção, em São Paulo. A obra está atrasada e cheia de problemas, como rachaduras e vazamentos. No dia em que a cliente Marion (Carolina Dieckmann) vai ao local cobrar providências do engenheiro Saulo (Selton Mello), tudo vem abaixo. Os dois ficam presos no quinto subsolo, junto com alguns operários. Muitos outros trabalhadores morrem na hora.

Enquanto isto, na superfície, começa a busca por sobreviventes nos escombros, sob a vigilância da mídia e das famílias das vítimas. E a construtora encontra um bode expiatório em quem jogar a culpa pelo desastre: o calculista Newton (Enrique Diaz), inexperiente em obras de grande porte.


O diretor Luciano Moura conversa com Carolina Dieckmann durante gravação da série "Treze Dias Longe do Sol", da Globo
O diretor Luciano Moura conversa com Carolina Dieckmann durante gravação da série "Treze Dias Longe do Sol", da Globo - Divulgação Globo




Não faltam ingredientes folhetinescos, como casais que se reencontram, filhos inesperados e até mesmo um caso homossexual entre dois pedreiros. Mas manchetes da atualidade também são refletidas no roteiro: em dado momento, um alto funcionário da Prefeitura cobra a propina atrasada que a construtora prometeu em troca de uma próxima obra.

Mas os momentos mais intensos se passam mesmo embaixo da terra, onde o grupo de sobreviventes busca por uma saída e acaba enfrentando uma via-crúcis de perigos: fios elétricos desencapados, inundações, novos desabamentos.

Não chega a ser spoiler dizer que nem todos escapam com vida, pois aqui a inspiração parece ter vindo de Hollywood: nada menos que do clássico filme-catástrofe "O Destino do Poseidon" (1972), onde um bando de passageiros de um transatlântico virado de cabeça para baixo por um tsunami procura sair pelo casco do navio.

Todo o elenco está bem, mas os destaques vão para Débora Bloch - tensa e crível como a diretora-financeira Gilda, de caráter dúbio - e os excelentes atores importados do Nordeste para interpretar os operários, como Demick Lopes, Arilson Lopes e Rômulo Braga.

Os autores não se preocuparam em fechar todas as muitas pontas no desfecho. Mas conseguiram algo mais interessante: não há vilões nem mocinhos no sentido óbvio. Todos os personagens têm matizes, da fraqueza ao altruísmo.

Com capítulos curtos (pouco mais de meia hora cada), andamento ágil e impressionantes efeitos especiais, "Treze Dias Longe do Sol" é mais um gol da teledramaturgia da Globo.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas Notícias