Tony Goes

Com cerimônia confusa, Grande Prêmio do Cinema Brasileiro continua irrelevante

Andréia Horta é premiada como melhor atriz no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2017
Andréia Horta é premiada como melhor atriz no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2017 - Picasa-05.set.2017/AgNews


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Sou mais do que louco por cinema: sou louco por premiações de cinema. Assisto até às cerimônias de entrega de prêmios obscuros em festivais desimportantes. O Oscar, então, é a minha final de Copa do Mundo.

Também gosto do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, o Oscar tupiniquim. Afinal, todas as cinematografias importantes têm algo equivalente. A francesa tem o César, a italiana tem o David di Donatello, a espanhola tem o Goya, e assim por diante. É mais do que natural que o Brasil, com uma produção tão rica e variada, também tivesse o seu.

Mas a nossa cultura é avessa à competição, e ainda achamos que fazer marketing é pecado. Assim, até hoje falta um apelido que marque o nosso Oscar.

Já se tentou batizá-lo de Grande Otelo, o que seria uma homenagem justíssima a uma figura fundamental das nossas telas. Não pegou. Também se tentou colar ao prêmio o nome do patrocinador --mas este mudava quase todo ano, e a ideia tampouco pegou.

Para piorar, a premiação referente a um determinado ano só acontece em meados do segundo semestre do ano seguinte. A essa altura, todos os filmes indicados já saíram de cartaz. A maioria passou na TV paga, e alguns até na TV aberta. Ou seja: por mais troféus que um título ganhe, não haverá a menor repercussão na bilheteria.

​E, para completar, a cerimônia em si costuma ser confusa e mal produzida. A 16ª edição --transmitida nesta terça (5) pelo Canal Brasil, diretamente do Theatro Municipal do Rio de Janeiro-- não foi exceção.

Concebida e dirigida por Bia Lessa, a festa não levou em conta o espectador que tentava acompanhá-la pela TV. Uma tela translúcida tapava o palco, e nela eram projetados os nomes dos indicados e os cartazes dos filmes. Enquanto isto, apresentadores e premiados faziam seus discursos por trás dela, numa poluição visual que conseguiu desrespeitar a tudo e todos.

Os concorrentes de diversas categorias eram apresentados em bloco, todos misturados. Depois, os vencedores também eram anunciados em sequência. Nenhuma cena que ressaltasse o trabalho dos indicados foi exibida: para quê, não é mesmo? Os filmes todos já saíram de cartaz.

Além do mais, boa parte da cerimônia foi ocupada por depoimentos de grandes cineastas discorrendo sobre a importância da sétima arte. Uma beleza, mas também uma chatice interminável. E para quê ressaltar a transcendência do cinema, para uma audiência que já é composta por cinéfilos? Isto é chover no mar.

E tem mais: não bastasse o excesso de categorias (edição de documentário e edição de filme de ficção, por exemplo), muitas delas resultaram em empate, com dois premiados. Ficou com cara de show de talentos no orfanato, onde todas as crianças ganham alguma coisa só por terem participado.

Dessa forma, o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro continua desconhecido do grande público, e praticamente irrelevante. É uma ação entre amigos, que pouco acrescenta à nossa vibrante cinematografia.


Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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