'Quem Sou Eu?', série sobre transexuais do 'Fantástico', foi educativa e emocionante
Depois de anos relegados às sombras, os transexuais agora parecem brotar por todo lado. Eles estão nas ruas, nas revistas, no cinema, na propaganda, no seu trabalho ou na sua escola.
Talvez por isto mesmo a violência contra travestis e transexuais nunca foi tão grande. Há quem diga que sempre foi assim: pelo menos, agora o grande público vem tomando consciência dessa horrenda realidade.
Também há muita curiosidade bem-intencionada sobre o assunto. Muita gente quer entender melhor o que faz alguém querer mudar de gênero, e conhecer a história dessas pessoas e suas famílias.
Neste sentido, a série de reportagens "Quem Sou Eu?" veio no momento certo. Exibido ao longo de quatro edições consecutivas do "Fantástico" (Globo), de 12 de março a 2 de abril, o projeto foi adiantado para coincidir com a estreia da novela "A Força do Querer", nesta segunda (3). A trama de Glória Perez tem uma personagem que transicionará de mulher para homem.
Mas, além do marketing para a própria emissora, "Quem Sou Eu?" teve um impacto tremendamente positivo. A repercussão nas redes sociais foi até surpreendente, com poucos internautas destilando preconceito.
Este sucesso se deve ao tom adotado pelo diretor e roteirista Bruno Della Latta e pela apresentadora Renata Ceribelli. Eles optaram pelo didatismo explícito, o que é totalmente apropriado para a abordagem de um tema controverso na TV aberta.
Incríveis animações na técnica stop-motion, inspiradas em "Alice no País das Maravilhas", serviram de fio condutor e a personagem de Lewis Carroll apareceu caracterizada de maneira propositalmente dúbia, sem gênero óbvio.
Cada um dos quatro episódios, com cerca de 15 minutos, se fixou numa fase: infância, adolescência, a passagem para a vida adulta (com tratamentos hormonais e cirurgias), e a pós-transição, com foco na vida amorosa e na formação de famílias. Também há muito material extra na página do "Fantástico" no site Gshow.
O primeiro capítulo talvez tenha sido o mais comovente de todos, protagonizado pela menina Melissa de Fazzio. Nascida Miguel, ela é lúcida e articulada, e conta com o total apoio dos pais.
Nem todos os outros personagens retratados tiveram a mesma sorte. Não faltaram histórias de trans expulsos de casa e caídos na prostituição. Mas os finais felizes, se não frequentes, pelo menos parecem estar ao alcance.
"Muita gente está comentando comigo sobre o assunto", conta Renata Ceribelli. "As pessoas falam bastante comovidas. Sinto que estamos conseguindo 'mudar' o olhar, ou pelo menos 'chamar a atenção do olhar' de parte do público para essas pessoas tão marginalizadas na sociedade."
"Conversei com gente de todas as classes sociais. Entendi que o preconceito é contra a família - especialmente contra a mãe, que geralmente é apontada como culpada. Enfim, a cada entrevista fui me tornando mais solidária com a história de vida deles."
Sem dúvida, a mesma reação de muitos dos espectadores desta série, que já pode ser considerada um marco da TV brasileira.
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