'Mexeu com uma, mexeu com todas', mas com a Emilly do 'BBB 17' pode mexer
Achei que a semana passada havia sido um divisor de águas. O caso José Mayer agitou as redes sociais e suscitou uma campanha contra o assédio liderada pelas funcionárias da Globo. O bafafá foi tão grande que a própria emissora precisou aderir ao movimento, suspendendo o ator e noticiando o episódio inteiro em seus telejornais.
Imediatamente, surgiram inúmeros relatos semelhantes ao da figurinista Susllen Tonani. A atriz Lady Francisco contou que foi estuprada por um famoso diretor de TV, cuja identidade ela só irá revelar depois que ele morrer. A jornalista Elisângela Veiga, da afiliada da Record no Rio Grande do Sul, disse que foi demitida depois de denunciar o chefe que a assediava sexualmente.
A mulherada descobriu que é maioria, pensei eu. A mulherada não vai mais sofrer calada. A mulherada finalmente se uniu! Os abusos cometidos pelos homens, em casa, no trabalho, em qualquer lugar, não serão mais perdoados.
Menos no "BBB". O que aconteceu no programa neste fim de semana foi gravíssimo. E um sinal de que o Brasil real, para além dos muros dos Estúdios Globo, não está nem aí para a tal da sororidade.
Tudo começou quando Marcos foi indicado ao paredão por Ieda, na noite de sábado (8). A esta altura do jogo, restam poucos participantes na casa, e a gaúcha que se dá bem com todos precisava indicar alguém. Escolheu o único homem que restou.
Marcos não se conformou. Durante a festa que se seguiu, não largou do pé de sua conterrânea, interpelando-a sem parar pelo emparedamento. Depois voltou suas baterias contra sua namorada Emilly. Gritou com ela, encurralou-a contra um canto, chegou a machucar o braço da moça. Depois chorou lágrimas de crocodilo, jurando que a amava. Idêntico ao que milhões de homens fazem com suas mulheres pelo mundo afora.
A internet entrou em erupção. Ao longo do domingo (9), a hashtag #MarcosExpulso ganhou força. Tive a sensação de que o cara seria defenestrado pelo público, depois do show de machismo explícito. Ou talvez até retirado do programa pela Globo. É bom lembrar que Ana Paula Renault foi sumariamente eliminada pela emissora na edição do ano passado, depois de dar um tapa no colega Renan.
Mas, dessa vez, a Globo não interferiu. Só ficou muito preocupada, de acordo com o discurso que Tiago Leifert fez no início do programa de domingo (9). E ainda jogou a responsabilidade em cima da vítima: Emilly, se quiser, que reclame. Enquanto ela não fizer isto, Marcos seguirá impune.
E então aconteceu o mais chocante. Marinalva, a primeira deficiente física a participar de um "Big Brother Brasil", foi eliminada com 77,17 % dos votos. Sim, Marinalva: a paratleta gente boa, que tentava conscientizar o público sobre o potencial das pessoas com limitações. A audiência preferiu salvar Marcos.
A situação é ainda mais absurda quando lembramos que, segundo as pesquisas, Emilly é a favorita para o prêmio final. Ou seja, ela é a queridinha dos telespectadores. Os mesmos que preferiram manter no jogo o brutamontes que a agrediu. Mas fazer o quê, se a própria Emilly comemorou a vitória de seu algoz?
Ou seja: sujeitos como Marcos Harter e José Mayer ainda têm a simpatia de uma parcela imensa da população. O comportamento deles não só é admitido, como recompensado. E a campanha "Mexeu com Uma, Mexeu com Todas" ainda não pegou. Nem mesmo na cúpula da Globo.
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