Desabafo de Pedro Cardoso é sintoma da nova política de contratações da Globo
"Eu achava que a TV Globo me ofereceria um horário para eu desenvolver um projeto autoral. Tiveram o mais absoluto desprezo pelo meu trabalho lá dentro."
A entrevista que Pedro Cardoso deu ao programa “Pânico” da rádio Jovem Pan nesta quarta (22) está repercutindo até agora.
O ator já era conhecido por não ter papas na língua e por criticar a emissora onde trabalhou por décadas — inclusive enquanto ainda estava lá.
Mas nunca havia se soltado tanto.
É compreensível a frustração de Cardoso, além do mais por ter interpretado um personagem icônico da nossa teledramaturgia: o Agostinho de “A Grande Família”.
Mas também dá para entender o lado da Globo.
Ela ainda lidera a audiência com uma folga razoável, mas sem o domínio absoluto de tempos atrás.
A concorrência está mais acirrada do que nunca.
E o dia tem só 24 horas: onde estaria o horário tão sonhado por Pedro Cardoso? Ainda mais para um projeto autoral... Além disso, existe a nova política de contratações da casa.
A Globo não mantém mais um número enorme de atores sob contrato, com medo de que eles passem para as rivais.
Essa política até que andou se flexibilizando, agora que a Record está novamente emplacando novelas de sucesso.
Nomes como Caio Blat, Eliane Giardini, Camila Morgado e Totia Meirelles foram chamados de volta depois de terem encerrado seus contratos, mesmo que alguns deles ainda não estivessem escalados para nenhuma obra.
Mas a quantidade de atores que nos acostumamos a pensar como “globais” e já não o são é impressionante: Diogo Vilela, Joana Fomm, Kadu Moliterno, Mariana Rios, Fernanda Paes Leme, Luiz Fernando Guimarães, Marcello Antony e muitos, muitos outros.
Alguns deles foram para os demais canais abertos, outros estão na TV paga.
E vários voltarão eventualmente para a própria Globo, mas com contratos por obra certa.
De fato, não fazia mais sentido manter um elenco gigantesco se, a qualquer momento, só uma fração dele estará no ar.
Comercialmente, é muito mais inteligente pagar só por quem estiver de fato trabalhando.
Claro que muitos medalhões, considerados “estratégicos” pela emissora, continuam com contratos longos e salários altos: Tony Ramos, Glória Pires, Fernanda Montenegro, Antonio Fagundes... Ainda é bastante, mas bem menos do que já foi um dia.
No resto do mundo é diferente.
Nos Estados Unidos, por exemplo, os atores são contratados pelas produtoras que fazem seus seriados, não pelos canais de TV. Por isto mudam tanto.
O Brasil caminha para esse modelo.
Que pode ser ruim para alguns artistas que desfrutavam de todos os benefícios de um emprego fixo, mas que funciona bem para todos se o mercado estiver aquecido.
E é melhor para o telespectador, que assim não vê mais as mesmas caras em todas a as novelas.
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