Tony Goes

Globo de Ouro se firma como o prêmio mais bacana de Hollywood

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Durante décadas a fio, ninguém levava a sério o Globo de Ouro. A premiação promovida pela Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood não tinha um pingo de credibilidade.

Troféus eram comprados na maior cara de pau. Grandes estrelas recebiam indicações por abacaxis, só para abrilhantar o evento com suas presenças. E a cerimônia de entrega, um jantar num hotel de Beverly Hills, não chegava ao calcanhar do esplendor do Oscar.

Aos poucos as coisas foram mudando. A festa da premiação se tornou exatamente isto: uma festa. Lubrificados pelo álcool, os vencedores começaram a fazer discursos de agradecimento muito mais emocionantes e divertidos do que em outros lugares.

O clima de informalidade também ajudou. Se alguma coisa dava errado (e como dava), não era uma tragédia. A casa vinha abaixo, todo mundo ria e o show continuava.

O processo de "rebranding" do Globo de Ouro se intensificou com a escolha de Ricky Gervais como apresentador. O comediante inglês foi o mestre de cerimônias durante três anos seguidos, e arrasou. Mesmo suas tiradas violentíssimas escandalizaram a indústria do cinema, mas garantiram excelentes índices de audiência.

O acerto aumentou quando Gervais foi substituído por Tina Fey e Amy Poehler. As duas atrizes cômicas, amigas de longa data, conseguiram a rara proeza de insultar a plateia sem ofendê-la (só um pouquinho). Também trouxeram uma pegada feminista que nunca ficou chata.


A transformação do Globo de Ouro se completou este ano. A lista de indicações surpreendeu: os filmes pequenos e independentes entraram no lugar dos blockbusters. Nas categorias de TV, novidades e ousadias ao invés dos mesmos de sempre.

Tudo isto culminou, na noite deste domingo (11), numa das melhores entregas de prêmio de todos os tempos. Em vários sentidos: os ganhadores mereciam mesmo ganhar, e o espetáculo, leve e engraçado como antes, ainda foi político ao aderir com gosto ao "Je Suis Charlie".

O Globo de Ouro quis mostrar que é o "anti-Emmy". Enquanto que o mais tradicional prêmio da TV americana repete os mesmíssimos agraciados quase todo ano, o GG valorizou a inovação. Distribuiu troféus para "Transparent", a primeira série da Amazon, e para programas que nem chegaram ainda ao Brasil, como "The Affair" ou "Jane the Virgin".

Já no cinema não houve grandes surpresas. Mas é difícil discordar das escolhas, que celebraram títulos como "Boyhood", "Birdman" e "O Grande Hotel Budapeste".

Amy e Tina estavam afiadíssimas. Sempre pegaram no pé de George Clooney, e dessa vez foram épicas. Tiraram sarro da Coreia do Norte, de Bill Cosby, de muitos dos famosos na plateia.

Vão fazer falta. Este foi o último ano em que apresentaram o Globo de Ouro. O prêmio agora terá que encontrar uma nova cara para o ano que vem, mas candidatos não vão faltar.

Te cuida, Oscar.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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