Fãs do One Direction não deixaram a vizinhança do hotel dormir
Moro ao lado de um dos hotéis onde as estrelas internacionais da música pop costumam se hospedar em São Paulo. Isto quer dizer que estou acostumado a uma certa aglomeração na calçada e a um certo volume de algazarra, principalmente aos sábados. Não é raro que os fãs mais exaltados permaneçam horas ao relento, esperando por um adeuzinho de seus ídolos.
Mas nada me preparou para o furdunço do final de semana passado (dias 10 e 11). A gritaria começou na madrugada de sexta para sábado, alcançando níveis estratosféricos ao longo da tarde. A causa da bagunça pode ser descrita em duas palavras: One Direction.
A proximidade da "boy band" britânica fez com que uma centena de meninas (e uma dezena de meninos, a bem da verdade) não arredasse o pé da frente do hotel, invadindo a rua e atrapalhando o trânsito. A presença deles ainda atraiu vendedores de faixas e camisetas, armando um circo que durou boa parte do dia.
O barulho não diminuiu nem mesmo durante o horário do show. Era de se imaginar que essas macacas de auditório pós-modernas seguiriam o grupo ao local do concerto, mas muitas —talvez sem dinheiro para os ingressos, talvez por opção— preferiram continuar de tocaia.
Que de vez em quando era bem-sucedida: mais ou menos de hora em hora o berreiro aumentava ainda mais (como se isto fosse possível), só porque Liam ou Harry haviam dado o ar de suas graças na janela.
Entendo perfeitamente a excitação de se estar perto de uma celebridade de quem gostamos. Fiquei sem palavras quando fui apresentado a Marina Lima, e olha que eu já era bem grandinho. Mas o grau de histeria dessas garotas me escapa à compreensão.
Claro que não é novidade: existem relatos de desmaios e faniquitos durante as apresentações de Franz Liszt, em pleno século 19. De lá para cá, o fenômeno cresceu de geração em geração, alimentado por Frank Sinatra, Elvis Presley, os Beatles, David Cassidy, o Menudo, os Backstreet Boys.
Hoje é perfeitamente normal que adolescentes acampem na porta de um estádio por mais de mês, como aconteceu antes da recente visita de Demi Lovato ao Brasil. Aliás, é esperado: ai do popstar que não tiver uma legião de apóstolos dispostos a largar tudo e a segui-lo em sua turnê pelo planeta.
O mais interessante é ver como a nascente sexualidade feminina, ainda tão reprimida, encontra nesses astros uma oportunidade de extravasar que é aceita pela sociedade. Mocinhas mais ou menos recatadas perdem a compostura diante de rapazes que elas não conhecem pessoalmente. Gritam, choram, rasgam a própria roupa, atiram neles calcinhas e sutiãs.
Não quero soar moralista, mas como é que os pais deixam que suas filhas passem dias e dias expostas aos elementos e a todo tipo de perigo? Para não ter que ouvir a choradeira dentro de casa?
Se for por isto, eu até entendo. Uma única fanática dessas é capaz de fazer um estardalhaço sozinha. Multiplique isto por cem, estenda por 48 horas e imagine o que eu —e toda a vizinhança do hotel— tivemos que aturar neste interminável fim de semana.
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