Terceira temporada de "Game of Thrones" estreia com impacto e frustração
Será que a série "Game of Thrones" está sendo escrita com a colaboração de Glória Perez? Tenho a impressão de que os personagens superam os mais de 80 de "Salve Jorge". E são tantos barbudos que às vezes é difícil entender quem é quem.
A terceira temporada do programa de maior audiência da HBO estreou neste domingo (31) simultaneamente no mundo inteiro, imitando a estratégia que o cinema usa há algum tempo para inibir a pirataria. O "hype" promovido pelo canal levou às alturas a expectativa dos fãs.
Mas então, foi bom esse primeiro episódio? Claro que houve um pouco de frustração. A segunda temporada terminou com uma cena absolutamente apavorante: a marcha dos temidos "white walkers", guerreiros zumbis que vivem no norte gelado, ameaçando furar a muralha e penetrar no continente de Westeros.
A primeira cena da nova temporada mostra o avanço deles, do ponto de vista do atrapalhado sentinela Sam. O gorducho esqueceu de soltar os corvos que dariam o alarme: é repreendido por seus superiores, e mais nada. Os "white walkers" não aparecem mais no resto do episódio.
Em compensação, quase todos os demais personagens estão de volta: a rainha destronada Daenerys tenta comprar um exército de mercenários, o anão Tyrion Lannister se recupera dos ferimentos da batalha, o bastardo Jon Snow tenta se juntar ao bando de sua amada Ygritte, e muito, muito mais.
Eu disse "quase todos", e é aí que mora o perigo: alguns personagens só retornarão nos próximos capítulos, tornando ainda mais árdua a tarefa de quem não assistiu ao começo da série. Assim como "Lost", "Game of Thrones" é um novelão. Não dá para começar a ser visto pela metade.
Mas vale a pena procurar os DVDs. Adaptado dos livros "As Crônicas de Gelo e Fogo" do americano George R. R. Martin, o programa lembra uma versão de "O Senhor dos Anéis" para adultos. O universo de fantasia medieval é semelhante ao de J. R. Tolkien, mas aqui há sexo e ainda mais violência.
Alguns vilões são irremediáveis, como o cruel reizinho adolescente Joffrey. Mas alguns dos protagonistas são dúbios, o que os torna mais interessantes. Tyrion, por exemplo, tem firmeza moral, mas faz parte dos Lannisters, o clã de usurpadores. E a aparentemente frágil Daenerys não hesita em cometer barbaridades quando isto lhe interessa.
Ninguém é totalmente santo em "Game of Thrones", e o espectador não tem por quem torcer sem restrições. Mas isto é ótimo: os personagens são complexos, cheios de falhas e vaidades. O mundo em que vivem é um delírio, mas seus defeitos são reais.
Gravada em cinco países diferentes e recheada de efeitos especiais, essa terceira temporada talvez seja o programa de TV mais caro de todos os tempos. Claro que uma produção luxuosa não valeria a pena sem uma boa história, que felizmente também está presente. Faça uma forcinha: "Game of Thrones" agrada até a quem não gosta muito do gênero, como eu.
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