Tony Goes

"Balacobaco" estreia às 22h30 com jeito de novela das 19h

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A direção da Record ficou traumatizada com o naufrágio de "Máscaras". Foi a primeira novela da emissora em muito tempo que não alcançou uma audiência média de dois dígitos.

A trama de Lauro César Muniz, prevista para durar um ano, foi encurtada abruptamente. Terminou terça, dia 2, marcando apenas seis pontos no Ibope e quase zero em repercussão.

A difícil tarefa de substituí-la coube a "Balacobaco", escrita pela prata da casa Gisele Joras. É visível o esforço de se diferenciar da antecessora: enquanto "Máscaras" era sombria e pesadona, a novela estreada nesta quinta, dia 4, se pretende ensolarada, para cima, moderninha.

E acaba exagerando na dose. Para seduzir um público mais do que acostumado com as paisagens cariocas dos folhetins da Globo, "Balacobaco" faz questão de esfregar na cara do espectador a todo instante que também se passa no Rio de Janeiro. Não há uma janela que não dê para um cartão-postal da cidade.

Crédito: Michel Angelo/Record A atriz Solange Couto, caracterizada como a trambiqueira Cremilda Paranhos, sua personagem em "Balacobaco"
A atriz Solange Couto, caracterizada como a trambiqueira Cremilda Paranhos, sua personagem em "Balacobaco"

Também há uma tentativa valente de inovar na linguagem, com edição não linear, câmera nervosa e efeitos de animação que mais atrapalham do que ajudam no fluxo narrativo. E tanta invencionice vai por água abaixo no momento em que uma personagem aperta os olhinhos e fita o além para se lembrar de algo ocorrido há muitos anos, enquanto que a imagem se dissolve para dar início a um flashback.

A história em si, pelo que deu para depreender do primeiro capítulo, é bastante "light". Há mocinhas virtuosas, galãs anódinos e trambiqueiros de diferentes matizes. As gêmeas Diva (Bárbara Borges) e Doris (Roberta Gualda), que pareciam periguetes simpáticas nas primeiras cenas, se revelaram bandidas violentas no final.

O elenco reúne muitos veteranos de "Malhação" e programas infantis, e quase todos os atores soam forçados ou mal escalados para seus papéis. Escapam da vala comum os mais que competentes Solange Couto e Silvio Guindane, que acertaram no tom de seus vigaristas inofensivos.

Mas o saldo final não é lá dos melhores. A luz da Record continua chapada, clara demais, empastelando figura e fundo (e isto num momento em que a fotografia das produções da Globo atinge níveis excepcionais). Os cenários são atulhados de objetos, e os figurinos, de mau gosto e impróprios para os personagens. Onde já se viu uma arquiteta de shortinho micro e sapatos de salto 14? Nem no Divino.

A largada de "Balacobaco" superou o final melancólico de "Máscaras" no Ibope, mas por pouco. Os primeiros dados falam de algo em torno de oito pontos, o que não deixa de ser uma façanha.

Passada a curiosidade natural gerada pela estreia, vamos ver como a trama se comporta. "Balacobaco" pode funcionar como um refresco para quem procura diversão leve mais tarde da noite, pois tem pegada de novela das 19 horas.

Talvez se dê melhor se parar de imitar (mal) o padrão global e buscar uma identidade própria. Mas confesso que não ponho lá muita fé.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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