"Guerra dos Sexos" e a difícil arte do "remake"
Todas as críticas até agora disseram praticamente a mesma coisa: a nova "Guerra dos Sexos" está ágil, divertida, com ótimos atores e incríveis efeitos especiais. Também está incrivelmente datada.
Por mais que os próprios personagens admitam que os tempos mudaram --Cumbuqueta (Irene Ravache) lembrou logo na primeira cena que as mulheres já chegaram até mesmo à Presidência da República-- o embate remixado entre machistas e feministas tem um indisfarçável sabor de trinta anos atrás.
"Guerra dos Sexos" causou estrondo em 1983. A trama era tão adequada à época como o foi a recém-terminada "Cheias de Charme" para 2012. Mulheres no comando de grandes empresas eram então uma novidade, e o texto de Sílvio de Abreu traduzia com humor o espanto ante essa nova realidade.
O autor tem plena consciência disto e está adaptando sua obra para os dias que correm, mas as diferenças ainda não se fizeram perceber. Tirando as paisagens de uma São Paulo idealizada e o elenco diferente, fiquei com a nítida sensação de estar vendo a mesmíssima novela de antes. Sensação reforçada pelo uso das mesmas canções na trilha sonora, em versões originais ou "covers".
É muito tentador para a Globo refazer os sucessos de seu imenso catálogo. Para quê arriscar com histórias nunca testadas, se ali dentro existem dezenas de outras de êxito comprovado? Além do mais, uma enorme parcela do público nem era nascida quando estas foram ao ar pela primeira vez.
Eu era, e talvez por isto me incomode tanto. Fico o tempo todo comparando o "remake" com o videotape que tenho na cabeça. E como a gente costuma achar que antigamente tudo era melhor, quase nunca gosto muito do que vejo agora.
É o que está se passando com "Gabriela". Walcyr Carrasco recheou sua versão de situações mirabolantes que não existiam no romance de Jorge Amado e nem na primeira adaptação para a TV, de Walter George Durst. O resultado é uma novela correta, com vilões bem marcados e situações que se resolvem direitinho, mas sem a grandiosidade de suas antepassadas ilustres.
Mas às vezes as refações saem, se não melhores que suas matrizes, perfeitamente modernizadas. Foi o caso de "Ti Ti Ti", cujo "remake" terminou de ser exibido há cerca de um ano e meio. Maria Adelaide Amaral misturou tramas de diferentes novelas de Cassiano Gabus Mendes, trouxe temas atuais como a aceitação da homossexualidade e acertou em cheio. Será que ela tinha a vantagem de não ser a autora do original, e portanto sem pudores de promover alterações drásticas?
"Guerra dos Sexos" estreou com índices relativamente baixos, mas hoje em dia isto não quer dizer muita coisa. A audiência ainda pode engrenar: o currículo de todos os envolvidos aponta para isto. Mas o desafio vai ser grande. O estilo de vida dos protagonistas pode estar distante não só da realidade, como também dos sonhos de uma enorme parcela do público.
E, num país onde as mulheres já são maioria nas universidades, chefiam cada vez mais lares e chegaram ao poder na esfera pública e na privada, a premissa da novela soa meio pré-histórica. Mas quem disse que refazer um sucesso era fácil?
Comentários
Ver todos os comentários