Tony Goes

Pedro Cardoso esqueceu de apontar o verdadeiro vilão: o público

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O "Na Moral" de quinta passada foi bem mais animado que o da estreia. Não houve mais aquele clima bonachão de "concordamos em discordar" que assombra os programas do gênero, e tudo graças a um único convidado: Pedro Cardoso.

O Augustinho de "A Grande Família" é conhecido pela ausência de papas na língua. Lembro bem de um discurso inflamado que ele fez durante uma entrega de prêmio de cinema, há alguns anos, em defesa das atrizes que seriam "forçadas" a tirar a roupa em frente às câmeras.

Pedro entrou em cena para confrontar o paparazzo Felipe Panfili, um dos mais experientes (e processados) do Brasil. Antes da chegada do ator, o fotógrafo justificou muito bem sua linha de trabalho: ele só flagra celebridades em vias públicas, fazendo coisas que não são segredo para ninguém.

O apresentador Pedro Bial retrucou questionando o que seria um lugar público, e mostrou uma foto sua abrindo a porta de sua casa fantasiado de coelhinho, durante sua festa de aniversário. Bial estaria dentro ou fora de casa? O fotógrafo teria cruzado a linha entre o público e o privado?

Mas essa questão transcendental foi logo eclipsada pela participação de Pedro Cardoso, anunciado como "o inimigo no. 1 dos paparazzi". O cara já chegou com pedras na mão, acusando o "capitalista" que paga pelos serviços do fotógrafo, que estaria ausente do debate.

"Meu inimigo é o empresário que põe dinheiro numa coisa que é a minha vida particular", disse o ator. Pronto: foi o que bastou para a temperatura esquentar vários graus. Bial ainda tentou tergiversar, dizendo que Panfili, por ser dono de uma agência de fotógrafos, seria "patrão de si mesmo".

Mas o paparazzo rebateu rápido: "o principal site que compra foto é da TV Globo. A principal revista que compra é da TV Globo". O atônito Bial só conseguiu corrigir para "Organizações Globo". Depois pediu um palpite a Dira Paes, que "atacava de DJ", e dispensou a dupla de convidados.

Panfili ainda alertou: "o pior ainda está por vir". Ele tem razão. A imprensa brasileira que cobre celebridades ainda é mansinha perto da de outros países. Lembro de uma revista mexicana que publicou não só fotos de Salma Hayek almoçando com um amigo num restaurante, como a lista de tudo o que eles haviam consumido, com os respectivos preços. Estavam num local público, é verdade - mas que baita invasão de privacidade, hein?

E isto é fichinha perto do que os ingleses fazem, principalmente contra os membros da família real. Grampeam telefones de atores como se estes fossem senadores investigados pela PF. Provocam constragimentos enormes, destroem casamentos e provocam até mortes - como a da princesa Diana, como muita gente os acusa.

Pedro Cardoso faz parte do "star system" nacional, e por livre e espontânea vontade. Lutou muito para chegar onde chegou, faz um sucesso merecido e tem uma série de privilégios que são negados aos mortais comuns. Sair de vez em quando numa revista tomando sorvete no Leblon é um preço baixíssimo por tudo isto. E essa revista talvez faça parte do mesmo conglomerado da qual ele é contratado.

O verdadeiro culpado por esta "perseguição" não é nenhum empresário, é óbvio. É o público. Somos nós, que adoramos ler fofocas em sites como o F5. Somos nós o "inimigo", Pedro. As mesmas pessoas que compram ingressos para suas peças e dão audiência para os seus programas. Cuidado conosco.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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