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Rosana Hermann
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Chega de influenciador picareta!

O jeito é torcer para que os que cometem crimes continuem sendo presos

Homem com cabelo pintado de rosa e corrente de ouro
O influenciador Nego Di, que foi preso acusado de estelionato - Instagram/negodioficial
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São Paulo

Domingo passado, dia 14, o influenciador Dilson Alves da Silva Neto, conhecido como Nego Di, foi preso em Jurerê Internacional, bairro nobre e luxuoso de Florianópolis (SC).

Ele é investigado pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul por suspeita de lesar 370 pessoas por meio da venda de produtos de sua empresa, num total de R$ 5 milhões de prejuízo. Nego Di também estaria envolvido em um esquema de lavagem de dinheiro obtido por rifas virtuais.

Mais triste ainda foi a ocorrência do sábado, quando o influenciador Vitor Vieira Belarmino, que estava com cinco mulheres em sua BMW, atropelou e matou um rapaz que tinha acabado de se casar. Vitor dirigia em alta velocidade. O impacto foi tão grande que a vítima foi arremessada para dentro do veículo. Eles jogaram o jovem atropelado para fora do carro e fugiram sem prestar socorro.

Essas duas ocorrências com influenciadores não são raras, ao contrário.

No mês de março desse ano, a influenciadora Mapoua foi presa no Rio de Janeiro por porte ilegal de arma. Em abril, uma influenciadora baiana foi presa num hotel de luxo por estimular jogos de azar. Em maio, o influenciador Trem Bala foi preso no Distrito Federal por envolvimento com rifas ilegais.

Em junho, a influenciadora Kat Torres foi condenada a oito anos de prisão por tráfico humano e escravidão, mesmo mês em que outra influenciadora foi alvo de uma operação policial contra jogos de azar. Em julho, outro influenciador foi preso na Bahia por fraudes financeiras.

Em parte, essa frequência tão alta se deve pelo grande número de influenciadores que existem em nosso país. De acordo com um estudo da Nielson e YouPix, o Brasil é o país que mais tem influenciadores digitais no Instagram. São 10,5 milhões de contas com pelo menos 1.000 seguidores cada uma. Numa amostragem tão grande, é de se esperar que exista uma porcentagem de pessoas que cometam malfeitos. É importante lembrar que a internet deu voz a muita gente que era silenciada, que permitiu quem muita gente mostrasse seu talento e ganhasse dinheiro com seu trabalho. E que tudo isso é muito bom e democrático.

É justo que todo mundo que produza conteúdo queira ganhar dinheiro. E muitos ganham fortunas, de fato, mesmo produzindo conteúdos totalmente descartáveis. É parte do mercado de entretenimento como passatempo, sejam dancinhas toscas ou desafios tontos. Não adianta julgar, condenar, reclamar. Existe oferta porque há procura. Mas, como disse uma amiga quando comentei que achava bobeira os vídeos de gatinhos cantando apenas miau miau miau miau em histórias tristes, ilustradas com imagens toscas geradas por IA, esse nem é o problema da internet. O maior problema da internet são as mentiras, as falsidades, as fake news, os golpes.

Sejamos sinceros, ninguém é a favor de golpe. Ninguém cai em golpe porque quer. As pessoas caem porque são ingênuas, porque têm muita informação e pouco tempo para verificar as fontes, porque não têm antídotos contra essas armadilhas nem recursos para detectá-las. E não tem maior prova dessa falta de recursos, inclusive cognitivos e emocionais, do que a senhora que passou dois anos dando dinheiro para alguém que ela acreditava ser o Arnold Schwarzenegger.

Mas as pessoas caem mesmo em golpes porque há muita, mas muita gente mau-caráter que, para ganhar dinheiro, não em importa de lesar os outros. São gananciosos vazios, que só querem comprar carrões, ostentar grifes e correntes de ouro e viajar para Dubai e Maldivas. Muitos nem sabem onde estão indo, nem conhecem a história, a cultura do lugar. Nem saberiam apontar Dubai ou Maldivas num mapa. E nem querem. Só querem reproduzir as imagens que veem no Instagram e posar de bacanas. Querem mostrar que "venceram na vida", que são ricos, que estão por cima, que são espertos.

Estamos vivendo num mundo artificial baseado em imagem, em competição e ostentação, com poucos valores embasados em afetos, humanidade, solidariedade. E esse meio superficial e veloz é habitat perfeito para gente sem cérebro e sem coração, que têm apenas a aparência e ambição como guias.

Talvez a gente, como sociedade, consiga reverter essa tendência. Como a história é pendular, pode ser que uma hora as coisas se invertam. Por enquanto, só temos a lamentar que existam tantos influenciadores picaretas e tantos milhões de pessoas dispostas a seguí-las. O jeito é torcer para que os que cometem crimes continuem sendo presos. E que as pessoas que os seguem se livrem desse transe e acordem a tempo de dar unfollow.

Rosana Hermann

Rosana Hermann é jornalista, roteirista de TV desde 1983 e produtora de conteúdo.

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