Mariliz Pereira Jorge

Mahmoud caiu porque os fracos não têm vez

Participante tem defeitos, claro, mas o pior deles foi ter se acovardado

Mahmoud e Tiago Leifert no palco da eliminação
Mahmoud e Tiago Leifert no palco da eliminação - Paulo Belote/Globo
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No BBB e na vida aqui fora, gente como Mahmoud sobrevive aos trancos e barrancos. Transparência, sinceridade, fidelidade, aquele discurso do eu sou assim, agradam até a segunda página. Na terceira, o que a maioria prefere é que as pessoas não incomodem muito, sejam mais discretas, não sofram demais, não façam tanto barulho e, principalmente, sejam infalíveis.

Muitos de nós devem ter se identificado com o terapeuta sexual. A gente acha que o mundo é um lugar justo e que as pessoas autênticas serão reconhecidas por seu compromisso com a verdade e a lealdade. A gente diz o que pensa, chora quando está triste, explode de raiva, transborda felicidade, debocha das próprias tragédias, abraça as alegrias. Sem filtro. Sem saber que tudo aquilo um dia pode ser usado contra nós, apenas porque somos assim.

Beira a ingenuidade acreditar que as pessoas estão interessadas em interagir com tanta franqueza. O BBB acaba sendo um espelho da vida ao mostrar que é preciso habilidade para enfrentar o mundo e conviver em paz com os altos e baixos, os dias de glória, os dias de luta e, principalmente, com o julgamento alheio. 

Gente bem-intencionada como Mahmoud, como eu, como você, sofre, chora e esperneia, fica vulnerável e mostra que temos um ponto bem fraco: não sabemos lidar com a parte feia, suja e trapaceira do mundo. Acusamos as injustiças e demoramos demais para mostrar reação à altura. Enquanto isso, falsos, hipócritas, mau caráter engolem o choro, sorriem, dão tapinhas nas costas e passam para a próxima fase.

Mahmoud tem defeitos, claro, mas o pior deles foi ter se acovardado quando deveria ter sido racional, mas chutou na trave ao agir com esse sentimento quase superior de quem está fazendo a coisa certa e acha que o mundo será justo por causa disso. Quem nunca? 

Conheço pessoas que ensaiam discursos indignados e tudo o que conseguem quando são confrontados é levantar a bandeira da paz, mesmo quando os outros estão errados. Pensam que assim vão dormir o sono dos justos, mas apenas vivem a insônia dos otários. De novo, quem nunca? Já vesti essa carapuça de Mahmoud muitas vezes na vida. 

Ele diz que sai da casa e que não se arrepende de nada. Não há mesmo o que lamentar. Mas fica claro que se tivesse sobrevivido ao pecado de seguir sua consciência, talvez seguisse forte até os capítulos finais do jogo.

O terapeuta sexual deixa uma lição valiosa para quem acompanha o BBB. Há um imenso valor em não abrir mão de valores e princípios, mas não tem preço saber a hora de recuar, respirar, tomar fôlego, dar dois passos atrás e cortar o mal pela cabeça com uma baita duma voadora.

Mariliz Pereira Jorge

É jornalista e roteirista.

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