Ghosting: Quando o krush vira fantasma e assombração de punheta
Homens somem sem dizer nada e acabam cometendo inspiração erótica
Uma das mulheres que mais amo no mundo abriu o peito e me contou mais ou menos isso aqui. "Toda vez que o telefone mostra o nome dele meu coração pulsa no peito e na perereca."
"Trocava ideia, afeto e nude. Era meme pra cá, safadeza pra lá e, entre músicas, filmes, notícias, a gente se falava toda hora. Depois ele passou a só responder uma vez por dia, em seguida uma vez por semana e, de repente, os silêncios cresceram e gritaram mais alto, a ponto de eu não saber se ele falou comigo esse mês. É ghosting que chama?"
O coração que antes tinha expandido igual balão, agora dói ao murchar e tentar se espremer pro tamanho de uma uva passa.
Aliás, segundo uma pesquisa da plataforma Plenty of Fish que saiu na BBC, "80% dos participantes com 18 a 33 anos de idade relataram ter passado por pelo menos um fim de relacionamento por ghosting". O portal Azmina cita os mesmos 80% entre as mulheres sofrendo ghosting, mas uma porcentagem bem pequena admitindo ter feito. Meus amigos habituês do Grindr, app gay, dizem que o normal é o cara sumir. O que todos as fontes parecem concordar é que os homens têm mais dificuldade de comunicar o fim da relação.
E quando o desgraçado que faz o ghosting vira fantasma de punheta? A pessoa tá lá num auto-amor e vem a assombração do nada. Inspiração erótica dolosa, quando a pessoa não tem a intenção de botar fogo no rabo alheio. E a gente fica na sinuca moral: broxa ou relaxa e goza.
"Ao olhar pra trás queria guardar só a imagem dele no espelho do motel, atrás de mim, lindo e enorme", e esse fantasma do passado misturou-se ao ghosting que ele fez com a minha amiga e, dessa mistura, me veio a nostalgia da responsabilidade afetiva voluntariamente compulsória.
Tinha uma dignidade no fim das relações antes das redes sociais e apps de relacionamento ou é impressão minha? Talvez ainda haja nas cidadezinhas, onde todo mundo se conhece, é primo e se tromba na praça da matriz.
"Será que as meninas do interior de Minas sentem a mesma pinçada no peito que eu? Ai, que saudade dele. Não, não é legal sentir isso. Para. Não daria certo. Eu nem queria tanto assim… Queria mais era dar pra ele de novo". Ela ri com a cara safada e triste ao mesmo tempo.
Ouvi quietinha, entendi, acolhi, concordei com a amiga (que provavelmente é mais legal e mais interessante que seu krush) que a gente devia achar formas melhores de lidar com o afeto do outro, mas…
A lembrança mais dolorosa dessa minha memória um tanto estrupiada é a do Kev, meu ex-marido inglês, sentado no chão, encostado na cama, me olhando incrédulo. Seus olhos azuis e vermelhos numa cachoeira linda me vendo moer e fritar seu coração enorme, ao dizer que queria mesmo me separar e voltar pro Brasil.
Separar dói demais, gente. Separar de gente legal então… Credo.
Só que essa minha memória está relacionada a um casamento de 7 anos, mas e quando nem é namoro? Poxa, Bauman, os amores líquidos às vezes podem ser tão gostosos… Deixa essa minha amiga molhar só um tiquinho (duplo sentido com ficar molhadinha, rs)? Logo logo ela mergulha no amor profundo de novo.
PS: Kev, perdão. Sinto muito. Muito obrigada. Te amo.
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