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Krishna Mahon
Descrição de chapéu casamento

Empurrar o outro no buraco ou encarar juntos o abismo?

Pandemia fez pessoas encararem suas relações e nem sempre foi agradável

Joana, celebreira. 2018 - Instagram/ativistadosentir
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Leitor solteiro que teve inveja de quem tinha "conje" na pandemia, na ilusão de que casado transa mais, continue aqui porque talvez essa seja a hora da revanche. Leitor casado que teve inveja de quem estava solteiro, fique porque você não está sozinho.

"Quero matar o Carlinhos!". Toda vez que encontro a vilã, apelido carinhoso que dei para uma amiga que é melhor que a Carminha e a Nazaré Tedesco juntas, ela repete isso.

De todas as amigas casadas que moram junto, ou então que na-moram, ela é de longe a mais apaixonada. O Carlinhos peida alto assistindo jogo do Flamengo, não abaixa a tampa da privada, deixa mais rastro de zona pela casa que o filho adolescente e o cachorro, ou seja, é o "marido normal" em extinção.


Um dia, assim que ela soltou "quero matar o Carlinhos!", indaguei: por que você não separa?

Estou no terceiro casamento que deu certo. Sim, separei dos outros maridos, mas posso garantir que, pelo menos nos arquivos salvos nessa memória cada dia mais estrupiada, fui muito feliz em todos. Pior, casaria de novo com todos eles. Claro que faria coisas diferentes, porque eu não sou mais quem eu era, e nem eles. Ainda bem.

Todas as mulheres que se prezam tiveram dois extremos desde o início da pandemia: um "ai, meu Deus, vou ficar viúva" atrelado a um medo enorme de perder o parceiro (confesso que fiquei em pânico); e um "se for da sua vontade, estou pronta, Senhor".

Antes que me cancelem, entendam a zoeira. Um dos meus melhores amigos é viúvo, vejo de perto a dor dele há uma década, e por mais que ele transe com muita gente, o buraco no peito nunca é preenchido, meu porteiro querido ficou viúvo mês passado, e sei que milhões de brasileiros estão passando por essa dor. Jamais faria piada com a dor dos outros. Peço licença para a leitura bem-humorada de quem está longe, bem longe, tipo 3 doses da vacina desse risco.

O fato é que desde março de 2020 quem mora junto foi obrigado a olhar para o parceiro. Teve quem levou um susto, sentiu horror do que viu e foi obrigado a separar. Tem gente que seguiu no piloto automático das obrigações diárias, que servem como subterfúgio para evitar o confronto do encontro. E um ou outro maluco resolveu encarar o abismo, mesmo sabendo que ele ia encarar de volta. Ô inveja desse povo que tomou caixote, achou que ia morrer afogado, mas atravessou as ondas e agora está deitado na areia quentinha.

Como diz Lacan, às vezes a linguagem, que a gente toma como algo que nos ajuda a nos entendermos, acaba sendo muito mais algo que gera desentendimentos não esperados e nem desejados; ao invés da concordância, nos deparamos com a dissonância.

Minha irmã Julia me recomendou um TED sobre comunicação não-violenta, que me levou a outros vídeos e textos sobre o assunto. Sabe aquele raio de sol que usam em filme para simbolizar milagre? Então, um abriu sobre a minha cabeça e tive uma grande epifania: quase todos os nossos problemas têm uma raiz na má comunicação.

As inúmeras desavenças na família, as dr's de casal que às vezes acabam desaguando no sentido contrário do que gostaríamos, o amigo que você gostaria de ajudar a sair do armário, a amiga que transa há seis anos com um cara e não consegue explicar para ele como fazer ela gozar (talvez seja tanto por ele não dar a devida importância, quanto por ela não insistir no assunto, mas isso fica para outra coluna), o outro que quer há muitos anos abrir a relação, mas tem medo de falar disso com a mulher. Aliás, essa última é uma questão recorrente no confessionário que se tornou a DM do meu Instagram (@krishnamahon). Ah, e lá aparecem fetiches difíceis de confessar, e que em breve vou fazer uma coluna só sobre isso.

Entre o realismo e o otimismo, tendo à esperança. Nas palavras de Suassuna: "Considero os otimistas ingênuos, e os pessimistas amargos. Então, eu me considero um realista esperançoso". Espero dias melhores, e que todos nós consigamos achar o melhor caminho para se comunicar e conectar. Sim, caro leitor, as conexões humanas são o nosso tesouro. Graças a elas a gente tem amigos, e transa, só para citar as mais óbvias.

Voltando à amiga Vilã que quer matar o Carlinhos, quando perguntei por que ela não separava, numa fração de segundos a cara de raiva de quem vocifera mudou completamente, o peito encheu de ar, como quem quer apagar o incêndio na área do esterno, e, tomada de amor, eis que ela responde: "ele me faz rir".

Então, se você ainda não dá conta de olhar para o abismo, se como eu ainda patina na hora de se comunicar com o krush, se tem ímpetos de viuvez como a minha amiga vilã, faça como o Carlinhos e use o humor para uma vida mais gozada.

PS: A Phoda Madrinha está torcendo para você transar mais e melhor, seja usando o humor, seja compartilhando essa coluna com o krush.

Krishna Mahon

Jornalista e cineasta indicada ao Emmy, é apresentadora do SexPrivé Club da Band. Foi produtora da Discovery e diretora de conteúdo do History.

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