'Uma miss sempre é julgada', diz Teresa Santos antes de passar a coroa
'Parem de nos ferir', diz Miss Brasil cearense sobre casos de abuso sexual no país
Na noite de terça-feira (19), a psicóloga cearense Teresa Santos, 24, se despede do trono de Miss Universo Brasil e empossa sua sucessora. Isso ocorrerá em São Paulo, num jantar de gala para 200 convidados, em que a modelo vai oficialmente passar a coroa. As cinco finalistas deste ano, reveladas no início do mês, já estão na capital paulista participando das últimas etapas da escolha.
Em seu reinado de cerca de oito meses, período mais curto que o normal, Teresa avalia que o saldo é bastante positivo. "Enxergo esses meses com muita gratidão e felicidade em ter vivido tantos momentos incríveis e que me permitiram crescer como mulher e ser humano", diz.
Em balanço do que se passou desde que conquistou a faixa verde e amarela, em novembro passado, ela acredita que o ponto mais alto foi conhecer estados e culturas do país. A parte desafiadora, no entanto, foi emocional: "O ponto mais difícil foi manter o psicológico bem em alguns momentos de pressão e autocobrança. Além disso, uma miss sempre é julgada, seja ao ganhar a coroa ou para suprir expectativas alheias durante o reinado", explica.
Sobre seu desempenho no Miss Universo 2021, Teresa acredita que "tudo aconteceu como deveria". Agora, resta saber quem entre as jovens Rebeca Portilho (Amazonas), Luana Lobo (Ceará), Mia Mamede (Espírito Santo), Isadora Murta (Minas Gerais) ou Alina Furtado (Rio Grande do Sul) vai ocupar o posto de Teresa, honrar seu legado e exaltar o concurso nacional.
Confira abaixo a entrevista completa, onde a Miss Brasil fala também sobre a situação de falta de segurança da mulher, hoje, na sociedade brasileira.
O Brasil é um povo, segundo pesquisas, majoritariamente negro. Acredita que você foi julgada por ser uma Miss Brasil nordestina, loira, branca e de olhos claros?
Preconceito e intolerância existem de todos os lados, mas podem ter proporções diferentes. Eu não diria que fui julgada como uma pessoa negra, por exemplo. Mas ouvi diversas vezes que eu não representava meu estado ou meu país por ter essas características. A questão é que essas pessoas criam uma determinada expectativa com base em seus achismos e esquecem que somos um país com uma miscigenação gigantesca. E, sinceramente, que bom que ganhei! Que bom que quebrei um padrão sobre determinadas características para ser ou não de um estado. Isso nos ensina sobre o povo brasileiro e nossas raízes. O Brasil é um país rico, que tem povos de muitas origens. Uma hora teríamos esse "mix cultural" de raças e estereótipos, e isso é lindo de ver!
Você passa sua coroa agora. Qual é o sentimento quando olha para trás, no início dessa jornada, até hoje?
O sentimento é de transformação. Sinto que a Teresa do começo era bem diferente da Teresa de hoje. Afinal, aprendemos muito em um ano! Costumo dizer que uma miss amadurece 10 anos em um, pois vive experiências únicas e transformadoras. Por exemplo, tive a oportunidade de conhecer inúmeros estados do nosso país, pessoas, culinárias... eu tive o privilégio de escutar diferentes sotaques, conhecer diferentes culturas. Eu aprendi muito mais sobre o Brasil do que nos livros. E posso dizer que o nosso país é gigante e o povo precisa valorizar mais isso! Sou apaixonada pelo Brasil e representar nosso país é motivo de muito orgulho.
Qual você acha que foi o ponto alto de seu reinado, e por que? E o ponto mais difícil?
O ponto alto com certeza foi o privilégio de conhecer tantos lugares do Brasil, o que permitiu que eu conhecesse ainda mais nossa rica cultura. O ponto mais difícil foi manter o psicológico bem em alguns momentos de pressão e autocobrança. Eu sou uma pessoa que me cobro muito e um tanto perfeccionista. Além disso, uma miss sempre é julgada, seja ao ganhar a coroa ou para suprir expectativas alheias durante o reinado. É necessário ter uma personalidade firme e muita certeza de quem você é para não se deixar abater com esses pontos.
Você teve um reinado mais curto que o normal, de cerca de 8 meses. Este fato te impacta de alguma maneira?
Eu penso que tudo acontece como tem que ser. Acredito que Deus me estabeleceu no lugar e momento certos! E que bom que foram oito meses e não cinco, por exemplo. Então enxergo esses meses com muita gratidão e felicidade em ter vivido tantos momentos incríveis e que me permitiram crescer como mulher e ser humano.
O que você pode nos resumir sobre sua experiência no Miss Universo? E sua classificação?
A experiência no Miss Universo foi muito impactante. Conheci as mulheres mais lindas que já vi, e com as histórias mais incríveis também! Isso me ensinou muito de certa forma. Além de ter acontecido em um país que eu sempre quis conhecer, Israel. Foi uma experiência única viver dois sonhos grandes em um só. Sobre a minha classificação, acho que houve alguns fatores que me prejudicaram, mas também acredito que tudo aconteceu como deveria. Sou muito feliz e satisfeita com a minha trajetória, com tudo que fiz em tão pouco tempo de preparação. Só nós, misses, sabemos o que passamos para estar ali e muitas vezes há circunstâncias e situações que vão além do nosso controle. Eu tinha uma torcida muito grande e ver o carinho das pessoas comigo em Israel me mostrou que meu dever foi cumprido! As pessoas simpatizavam com o Brasil através de mim, e isso com certeza foi o maior prêmio! Me orgulho da minha história e de todos que embarcaram nessa comigo!
Você se sente de missão cumprida? Qual o seu próximo passo agora? Pretende seguir no mundo miss?
Não sinto que minha missão foi cumprida. Sinto que ela apenas começou. Lembro que na minha entrevista em inglês com os jurados do Miss Brasil, eu disse que o Miss seria o caminho para que eu pudesse realizar o meu propósito, e é verdade. O Miss Brasil foi uma grande oportunidade na minha vida, mas sinto que vem muito mais pela frente! Não pretendo seguir no mundo miss, mas pretendo estar sempre presente no meio. É um universo que muda a vida de muitas mulheres que participam e uma excelente plataforma para se conectar com mulheres! Precisamos cada vez mais aproveitar e usar isso para contribuir na vida das mulheres que representamos!
Como você enxerga o momento atual da mulher no Brasil, levando os últimos casos que repercutiram sobre violência médica e sexual?
Esses fatos são lastimáveis. A cada semana temos uma nova notícia de algum tipo de abuso ou violência e me pergunto até quando! A situação da mulher no Brasil é de extrema vulnerabilidade e que bom que temos redes sociais e o fácil acesso das informações para que haja consciência do que de fato acontece. Eu penso que o homem precisa ser reeducado, homens deveriam influenciar homens a tomarem outras atitudes e, se o problema for mental, que busquem ajuda. Mas parem de uma vez por todas de nos ferir.
Você acredita que uma miss pode contribuir positivamente para essa situação? De que maneira?
Sim! Não só as misses, mas qualquer pessoa que representa um papel de liderança. Falando, expondo, conscientizando. A Miss, como representante feminina, tem uma oportunidade enorme de falar com mulheres. E essa conversa pode ser sobre autoproteção, autocuidado e sobre conscientização para que mulheres se protejam! Para as que foram violentadas, encontre um caminho para se restabelecerem.
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