Cearense é 1º amputado em concurso de beleza internacional: 'Criando acessos'
Hendson Baltazar representará o Brasil no Manhunt International
Hendson Baltazar representará o Brasil no Manhunt International
Uma série de primeiras vezes. É assim que pode ser descrita a história do cearense Hendson Baltazar, 30, nos concursos de beleza. Eleito Mister Ceará 2020, ele é deficiente físico amputado, mas não deixou essa condição se tornar uma barreira e, sim, uma oportunidade de quebrar padrões no ramo.
Baltazar tornou-se o primeiro candidato com sua deficiência a participar do Mister Brasil CNB, em dezembro do ano passado, sendo vencedor da disputa ao lado do amazonense William Gama, 22. Agora será o primeiro brasileiro deficiente a representar o país no Manhunt International 2021 —ainda sem data e local definidos.
“Depois de ter aceitado o convite descobri que, na história do país, nos níveis municipal, estadual ou nacional, nunca tinha participado um deficiente amputado como eu. As pessoas enxergam a deficiência e a beleza como coisas distintas, então a grande maioria não se vê ali”, disse em conversa com a coluna.
Os concursos de beleza, tanto femininos quanto masculinos, nunca vetaram pessoas com deficiência, mas Baltazar explica que eles não se sentem incluídos. “Tem que ser alto, magro, com estereótipo de modelo. E é notável a eliminação de um candidato que tem um detalhe fora disso. Imagina como isso é visto por um amputado”.
Baltazar perdeu parte da perna e o pé esquerdo há sete anos, após um acidente de moto. Sofreu várias fraturas e passou por onze cirurgias. Hoje, usa uma prótese. Apesar da transformação que o episódio provocou em sua vida, ele conta que viu como um jeito de se renovar e passou a dar mais valor a sua vida e a seus sonhos.
“Após o acidente, tudo na minha vida mudou. Tive que me tornar uma nova pessoa, até porque a vida me obrigou a isso, eu não era mais o mesmo”, recorda. “Aceitei a realidade de ser uma pessoa com deficiência física amputada, levantei a cabeça e segui em frente.”
“Confesso que não foi tão difícil aprender a andar depois que coloquei a prótese. Voltar a andar na vida foi bem mais complicado”, continua. “Mas com o Mister Brasil pude incentivar as pessoas com deficiência. Estou muito honrado e orgulhoso de levantar essa bandeira da luta, destruindo barreiras e construindo mais acessos”.
Além de incentivar outras pessoas, Baltazar também guarda a competição como um símbolo de sua própria superação. “Eu sempre tive vários sonhos, mas depois do acidente meu único sonho era voltar a andar. Minha grande vitória foi compartilhar esse sonho na passarela. Tive que lutar duas vezes mais, mas consegui.”
Além do título de nacional, Baltazar também levou para casa o título de melhor corpo da edição. “E isso foi muito mais significativo que a faixa de Manhunt Brasil”, afirma ele.
As limitações de movimento no dia a dia foram muito difíceis para Baltazar, que sempre gostou de esportes. Por isso, a prótese calçada pela primeira vez há três anos, virou um divisor de águas. No início, com ele ainda usando muletas, mas depois caminhando sozinho. Agora, investe pesado na malhação.
Natural de Maracanaú, na região metropolitana de Fortaleza, Baltazar tem formação de técnico em radiologia e cursou faculdade de educação física, tendo trabalhado como professor universitário e, hoje, atuando como personal trainer.
“Tive uma evolução muito rápida, e logo chamei a atenção do coordenador do Mister Ceará, que me convidou para participar da etapa municipal de Maracanaú, que é onde eu moro. Foi aí que vi que os concursos são mais que beleza externa e te permitem levar um conteúdo como um todo”.
Seu interesse nos concursos de mister, porém, surgiu só depois de perceber que poderia levantar a bandeira da inclusão e a luta das pessoas com deficiência por meio da visibilidade da faixa. De acordo com ele, a mensagem que quer deixar com sua trajetória de mister é que beleza não tem padrão.
“Para mim, beleza é arte. Não tem como distinguir se a arte de tocar violão é mais bonita que a arte de cantar, pois são duas belezas diferentes, cada um tem a sua. E a minha arte e beleza são a minha prótese. Não ganhei por conta da minha deficiência, mas por ser eu mesmo”
“O legado que eu quero deixar, além da minha participação histórica, é saber que eu fui o primeiro. Pois agora, meu desejo é que tenha um segundo, terceiro, quarto, quinto… Meu legado é ter deixado aberta a porta para a participação de pessoas com deficiência no mundo da moda e dos concursos de beleza.”
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