Eleições 2022: nunca tantas personalidades declararam voto como agora
Polarização recorde instiga torcida de gente que nunca se posicionou, sob o ônus de desagradar anunciantes
As eleições de 2018 já haviam trazido para a esfera pública o voto de muitas personalidades normalmente discretas sobre suas escolhas. Também em 1989, na primeira eleição direta para presidente após 29 anos de jejum, a classe artística se reuniu em peso no lendário vídeo que inaugurava o jingle "Lula-lá".
Mas o pleito de 2022, apontado como o mais tenso desde a redemocratização do país, ampliou o universo de figuras dispostas a se posicionar.
É verdade que muita gente evitou declarar voto até poucos dias atrás, deixando a torcida explícita para essas últimas horas. Entre as declarações de votos que causaram mais surpresa, estão as de Xuxa, Angélica, Bruna Marquezine, Paolla Oliveira e, neste sábado, véspera do pleito, veio a revelação mais inesperada, pela voz de Fátima Bernardes.
E não é que ela tenha se limitado a fazer o L com os dedos, como fizeram outras personalidades. Fátima anunciou voto em Lula e justificou sua escolha, mais como um voto antibolsonarista do que propriamente por louvor a Lula.
A semana teve ainda Neymar e Robinho defendendo a escolha contrária à de Fátima, opção em que foram seguidos pelos cantores Gusttavo Lima e Leonardo.
ÔNUS E BÔNUS
Na era das redes sociais, não é novidade que o posicionamento ideológico, de causas sociais a legendas partidárias, afasta o interesse publicitário de marcas que zelam pela associação de seus produtos com gente isentona e discreta. Uma figura neutra, nesse caso, em tese tem condições de ser aceita por um maior número de consumidores.
Ao se posicionar, muitos famosos perdem dinheiro porque são descartados por essa indústria interessada em falar com o maior número de pessoas possível, bolsonaristas ou petistas. Isso é o que acontece em condições normais de temperatura e pressão, o que não é o caso deste momento.
Tantos foram os artistas que tomaram partido nesta eleição, que sobraram poucas opções de garotos-propaganda sem legenda. Ivete Sangalo, não à toa uma das queridinhas do mercado publicitário, recentemente foi alçada ao posto de apresentadora e é uma que tem sido cobrada a manifestar posição por atores e cantores.
A essa altura, o ato de não se posicionar, principalmente entre uma classe artística majoritariamente de esquerda e diante de um governo que minou as políticas culturais, ganhou um ônus maior do que perder contratos publicitários.
Artistas, mais que esportistas, têm cobrado de seus pares alguma militância neste pleito. Há tempos identificado como eleitor de Lula, o ator Paulo Vieira, um dos nomes de maior evidência na Globo atualmente, disse durante o evento que reuniu personalidades e o candidato petista no Anhembi, esta semana, que prefere perder publicidade a perder a chance de colaborar para a saída de Jair Bolsonaro da presidência.
No último mês, ganhou fôlego a mobilização entre famosos pela eleição de Lula no primeiro turno, corroborando a tese de que será mais difícil a Jair Bolsonaro contestar a confiabilidade das urnas nessa etapa que elegerá deputados e senadores, e alguns governadores.
Ao levantar tantas suspeitas sobre o sistema de votação, o próprio candidato à reeleição acabou alimentando esse pensamento e instigando que muita gente rompesse o sigilo sobre o voto.
O insucesso da política ambiental de Bolsonaro também tem atraído apoio de artistas internacionais que militam pela bandeira da Amazônia, como Mark Rufallo e Leonardo DiCaprio.
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