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Zapping - Cristina Padiglione

'Achavam que a gente era caso', lembra Eliezer Motta sobre Jô Soares

Intérprete de Carlos Suely, par do Capitão Gay, e de Batista conta como era trabalhar com o humorista

jô soares
Eliezer Motta e Jô como Carlos Suely e Capitão Gay no programa 'Viva o Gordo' - acervo TV Globo
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Um dos parceiros mais frequentes de Jô Soares em seus programas de humor, o ator Eliezer Motta contou que muita gente os tratava como homossexuais nos anos 1980, em função dos personagens Capitão Gay e Carlos Suely. "Achavam que eu era gay e que a gente era caso", revelou ele, em tom bem-humorado, em conversa com Marcius Melhem durante uma live promovida pelo ex-diretor da Globo em seu perfil no Instagram na noite desta segunda-feira (8).

A seção contou ainda com a presença de Alexandre Regis, filho de um antigo produtor de Jô, conhecido como Pituca, que também contracenava desde garoto com Jô e outras estrelas do glorioso passado de humor da Globo, como Chico Anysio, Agildo Ribeiro e Renato Aragão.

Durante a conversa com Melhem, os dois revelaram como era trabalhar com Jô, atestando que ele poderia chegar ao estúdio para gravar por volta de 12h, indo até as 2h da madrugada com o mesmo entusiasmo.

​Motta lembrou ainda do Batista, personagem que não existia quando nasceu o Irmão Carmelo, interpretado por Jô. Ao criar o sacristão, Jô convidou um outro ator para o papel (cujo nome Motta não revelou), que se considerava muito consagrado e não poderia conviver com o bordão de alguém que o mandava calar a boca a toda hora. Foi então que Jô propôs o papel a Motta, que topou na hora.

A criação do tipo veio da formação católica portuguesa de Motta, e no mesmo dia em que começaram a gravar, nasceu seu figurino e a ideia da prótese dentária para acentuar o modo afetado de falar. E já que ele não falava nunca e, quando falava, ouvia "Cala boca, Batista", Motta começou a criar grunhidos vocais para interagir com o frade.

Motta e Regis disseram que a convivência entre eles, Jô e profissionais como Francisco Milani --que foi diretor dos programas de Jô--, e criadores como Max Nunes nos camarins e bastidores resultava em conversas que alimentavam a composição de cada personagem, quase em tom informal. Foi assim que, em determinado momento, eles levaram ao ar um enredo sobre a suposta origem de Carlos Suely e Capitão Gay.

Eliezer Motta, Jô Soares e Alexandre Regis
Eliezer Motta, Jô Soares e Alexandre Regis em cena de humorístico na Globo - Reprodução

A dupla lembrou como foi tensa a mudança de canal da Globo para o SBT no ano de 1987, não só pela "lista negra", a assim chamada relação de nomes que o então chefão Boni passou a vetar até em comerciais na tela da Globo, mas também por pressão de colegas que ficaram na líder, na época, alardeando que seria loucura trocar de canal e correr o risco de virar "brega", imagem atribuída ao SBT naqueles dias.

E mesmo que o humorístico no SBT não tenha sobrevivido até dois anos após a mudança de canal, já que Jô passaria a fazer só o talk show após 1990, a troca de emissora do elenco teria sido compensada por um salário bem maior do que aquele pago pela Globo até ali. Motta, mesmo sendo já um coadjuvante de peso, conta que ganhava muito mal na época.

A pedido de Melhem, Regis e Motta citaram as diferenças entre trabalhar com Chico Anysio, Jô Soares, Renato Aragão e Ronald Golias. Segundo Regis, Jô levava o texto a sério, do ensaio à gravação, mas não trazia para o set a mesma tensão de Chico, que, segundo o mesmo Régis, não gostava que errassem o script. Quem esquecesse a fala deveria dar o seu jeito para não interromper a gravação.

Já Renato Aragão, ainda de acordo com Régis, mal seguia o texto, o que era uma dificuldade para ele, quando criança, entender quando tinha de entrar em cena. "Eu tinha que iniciar minha fala, por exemplo, depois que ele falasse 'abacaxi', só que ele podia não falar 'abacaxi'. E então ele dizia pra eu entrar quando eu achasse que dava pra entrar, e tudo bem."

E Golias era um caso completamente impensável, contam os dois. Tratado por todos como gênio, ele ensaiava uma, duas, três ou tantas vezes quantas lhe permitissem. Embora levasse todos do set às gargalhadas, demonstrava insegurança e, após gravar, invariavelmente, perguntava aos demais: "Você acha que ficou bom?" Era inacreditável, contam.

Confira abaixo a conversa completa em vídeo:

Zapping - Cristina Padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

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