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Zapping - Cristina Padiglione

Jô Soares: Roberto Marinho discordou de vingança ao ser trocado por Silvio Santos

Segundo apresentador, dono da Globo disse não ter sido avisado sobre ameaças de Boni quando humorista foi para o SBT

Ziraldo e Jô Soares
O cartunista Ziraldo marcou a última edição do Programa do Jô, na Globo - Reprodução
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Uma passagem conhecida da trajetória de Jô Soares, que morreu na madrugada desta sexta-feira (5), aos 84 anos, em São Paulo, diz respeito à sua troca de canal, da Globo pelo SBT, no final de 1987, quando encontrou espaço na concorrência para realizar o sonho de fazer um talk show. Mas parte dessa história permaneceu inédita até o último Programa do Jô, exibido em 16 de dezembro de 2016, na Globo, quando ele recebeu o amigo Ziraldo para marcar sua despedida da TV.

"Quando saí da Globo", relatou Jô ao cartunista, "o Roberto Marinho me convidou para jantar. Ele falou para o Boni: 'Vou jantar com o Jô, porque eu não tenho nenhum problema com ele, ele é meu amigo'. Aí o Boni disse: 'Eu não tive como falar para o senhor sobre o que aconteceu porque o senhor estava na Itália'. E o doutor Roberto então respondeu: 'ah, e na Itália não tem telefone?'"

Na época, Boni, chefão da Globo até 1997, ficou magoado com a transferência de Jô para o SBT e chegou a tentar impedi-lo até de usar a palavra "gordo" em seus programas e espetáculos. Boni também vetou comerciais não só com o próprio Jô, mas com atores que haviam concordado em trocar de canal com ele, como Eliezer Motta e Nina de Pádua.

Em resposta a Boni, Jô escreveu um artigo no extinto Jornal do Brasil, explicitando a pressão e comparando a represália à chamada "lista negra" de Hollywood, que buscava perseguir profissionais supostamente simpatizantes do comunismo. O texto também foi lido na tela do SBT, durante a edição do Troféu Imprensa de 1988, diante do novo patrão, Silvio Santos.

"A TV Globo escolheu exatamente o momento da Constituinte no Brasil pra inaugurar sua lista negra. Quem sair da emissora sem ter sido mandado embora, corre o risco de não poder mais trabalhar em comerciais, sob a ameaça de que esses não mais serão lá veiculados. Como a rede detém quase que o monopólio do mercado, os anunciantes não ousam nem pensar em artistas que possam desagradá-la", disse na ocasião.

"Não falo pelo fato de meus comerciais não poderem ser exibidos, nem pelo fato mais recente, das chamadas pagas do meu novo espetáculo, ‘O gordo ao vivo’, terem sido proibidas [...] Graças a Deus, meus espetáculos de humor já lotavam antes que eu fosse para a Globo".

Anos depois, Boni reconheceu que se excedeu e chegou a se sentar na poltrona de Jô na Globo. O executivo comentou o caso em seu livro de memórias, assunto que o levou ao programa.

Roberto Marinho foi o primeiro entrevistado de Jô quando o talk show finalmente estreou na Globo, em 2000, com 12 anos de atraso em relação à iniciativa do SBT. Já Silvio Santos não deu ao apresentador a mesma honra, tendo se recusado a ser entrevistado ao longo de anos, tanto por Jô como por outros jornalistas que tentaram conversar com ele, como Marília Gabriela.

Zapping - Cristina Padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

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