Diretor de 'Pantanal' deixa a Globo logo após a estreia
Divergências com chefia motivaram saída de Rogério Gomes, o Papinha
Há 42 anos na Globo, onde começou como operador de videoteipe e se tornou diretor artístico, Rogério Gomes se despede da emissora em maio, em pleno voo de seu mais recente trabalho, o remake da novela "Pantanal". Embora a emissora tenha anunciado o fato como decisão de "comum acordo", em tom de naturalidade, não é normal que um profissional de seu naipe deixe pela metade um projeto com a dimensão da próxima novela das nove, que vem merecendo todos os olhares da alta direção da Globo.
Diretor artístico de novelas e séries há pelo menos dez anos, Papinha, como é conhecido, também ganhou fama como marido de Paolla Oliveira, de quem se separou em 2019, após quatro anos de união.
Ao anunciar a saída do profissional com comunicado em que agradece pelos serviços prestados e empresta à despedida um tom de homenagem, a Globo arrefece os rumores sobre um grande desentendimento entre Papinha e seu superior, o diretor Ricardo Waddington, que responde pela área de Entretenimento dos Estúdios Globo desde o fim de 2020. Uma forte discussão entre os dois ocorreu ainda no início das gravações de "Pantanal", quando Papinha ameaçou abandonar o barco.
O caso foi contornado e ele concordou em encerrar a primeira fase da novela para passar o bastão a Gustavo Fernandez, que segue no comando das gravações da novela.
Segundo o comunicado da Globo, "em comum acordo, a decisão foi discutida ao longo dos últimos meses e partiu de um desejo do diretor de investir em projetos pessoais e tirar um período sabático".
Waddington fez questão de chancelar o trabalho do diretor no texto distribuído pela Globo: "Papinha deixa sua marca na história da dramaturgia. Ao meu grande companheiro em inúmeras batalhas e muitas vitórias, desejo o melhor nesta nova etapa da sua vida. E ‘Pantanal’ continua em boas mãos. Gustavo Fernandez é um dos nossos mais talentosos diretores artísticos e já está trabalhando na novela ao lado de todo o time de direção da obra", diz o chefe.
HISTÓRICO
Rogério Gomes é filho do locutor Hilton Gomes, primeiro apresentador do Jornal Nacional, ao lado de Cid Moreira, em 1969, tendo crescido nos estúdios da TV Tupi, onde o pai ganhou fama. Iniciou a carreira como operador de VT da primeira versão do "Sítio do Pica-Pau Amarelo" na Globo, e depois passou a editor de imagens.
Antes de começar a trabalhar com dramaturgia, editou e dirigiu diversos clipes exibidos no Fantástico, algumas edições do Hollywood Rock e também o primeiro Rock in Rio, em 1985. A primeira novela que assinou como editor foi "Sexo dos Anjos". Depois editou "Juba e Lula" e "Rainha da Sucata", novela de Silvio de Abreu que sofreria um extraordinário esticamento na duração de cada capítulo para atrapalhar a audiência de "Pantanal", então no ar pela Rede Manchete.
Dirigiu a minissérie "O Sorriso do Lagarto", adaptada do romance de João Ubaldo Ribeiro, e a novela "Deus nos Acuda", de Silvio de Abreu.
"Vira-Lata", de Carlos Lombardi, exibida em 1996, foi a primeira novela que assinou como diretor-geral, ao lado de Jorge Fernando. Também vem dele a direção-geral de "Império" e a direção-artística de "O Sétimo Guardião", ambas de Aguinaldo Silva, valendo um Emmy para a primeira. Papinha e Silva se desentenderam ao longo da novela. O autor revelou recentemente que o diretor promoveu mudanças na trama sem o seu consentimento.
Papinha também comandou "Além do Tempo", de Elizabeth Jhin, e "A Força do Querer", de Glória Perez, tendo sido um dos diretores mais disputados pelos autores nos últimos cinco anos.
"Só tenho gratidão por tudo que vivi na Globo. Foi onde tive os meus melhores mestres, onde fiz os meus melhores amigos e realizei meus melhores trabalhos. Minha decisão é de vida: cheguei na Globo com 18 anos e saio aos 60", diz Papinha no comunicado da emissora. "Foram 42 anos de muitas conquistas. Entrei carregando fita e saio com o nosso Emmy! É um ciclo que se fecha para que novos caminhos se abram. Só tenho amor e gratidão!"
Rogério Gomes tinha com Silvio de Abreu, hoje na WarnerMedia, uma sintonia que não se consumou com Waddington, chefe do sucessor de Abreu, José Luiz Villamarim.
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