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Zapping - Cristina Padiglione

Autor de 'Malhação' cancelada cita representatividade: 'O sonho continua'

Edu Carvalho busca TV que seja 'mais espelho e menos janela'; novela teria maioria negra

Dois homens negros vestindo ternos posando para selfie em uma rua
Eduardo e Marcos Carvalho - Instagram/marcoscarvalhovski
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Coautor da temporada de "Malhação" que a Globo acaba de suspender, Eduardo Carvalho se manifestou sobre o projeto, mas não exatamente sobre os motivos que levaram a emissora a interromper o trabalho que já estava em produção.

Por sua página no Instagram, o roteirista enalteceu o objetivo dele e de Marcos Carvalho de contar uma história capaz de refletir uma população gigantesca que passa à margem das novelas e da maior parte das séries feitas para a TV. Negros, com origem no morro, os dois preparavam um enredo que previa mais da metade do elenco com atores pretos, dando a "Malhação" um nível inédito de representatividade social e étnica.

Em vez de lamentar o cancelamento --ou "adiamento" do projeto, como a Globo trata o caso--, Edu mostra entusiasmo em seguir adiante e continuar a projetar essa história.

O enredo se concentra em uma escola da zona norte do Rio que tem o pior desempenho do país e corre o risco de ser fechada, motivando a luta de um grupo de alunos por sua manutenção. Por esse universo circulam alunos e professores com grandes histórias de vida, retratando a maioria do país.

"Eu e @marcos_carvalhovski não íamos nos manifestar publicamente sobre a notícia do cancelamento de Malhação, mas mudamos de ideia, já que ainda temos recebido de amigos e jornalistas perguntas de como estamos ou o que aconteceu. Segue abaixo nossa mensagem", explica Edu no Instagram.

"Agradecemos por todas mensagens que recebemos e por aquelas que não recebemos, pois as pessoas ficam na dúvida se é pertinente se manifestar. Por aqui, seguimos serenos e firmes.

Há 3 anos, antes mesmo de definirmos sobre o que seria a história, traçamos uma premissa: precisamos nos ver nela. Queríamos olhar pelo portão, ver as pessoas subindo o morro e pensar: nossos personagens, com seus dramas, poderiam estar subindo essa ladeira. Apresentar isso para milhões virou nosso sonho.

Mas a vida é desafio e nosso sonho continua. Um sonho que não é só de nós dois, nem só da equipe, nem só do elenco. Sonho dos que vieram antes de nós e nos abriram caminho. Sonho de Ruthes e Otelos. Sonho de Zezés e Miltons. E de milhões de brasileiros. O sonho da tela da TV ser menos janela e mais espelho. Menos janela pra um Brasil de bairro nobre de Rio ou São Paulo e com cor de Suíça. E mais espelho de nós mesmos, do Brasil real. Um Brasilzão grande e complexo. Cheio de dor e alegria, miséria e irreverência. E cor. Muitas. Todas.

Não temos a pretensão de herdar o anel de bamba dos gigantes que vieram antes de nós. Mas, assim como tantos outros, assumimos a responsabilidade de atender ao pedido final de muitas e muitas gerações: a de não deixar nosso samba morrer. Nem nossos sonhos.

E a foto da sarrada com os prêmios que recebemos em Brasília pelo filme 'Chico' é pra lembrar que a favela é potência e magia. Que não importa onde tá a linha de chegada, nós passaremos por ela. Melhor: por cima dela, sarrando. Nós, os que já vieram antes e os milhares que também são responsáveis por estarmos aqui. Juntos. Sempre.

Paz."

Zapping - Cristina Padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

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