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Zapping - Cristina Padiglione

Série documental sobre negritude, 'Preto à Porter' amplia diversidade na tela

'A indústria do entretenimento ainda é racista', diz o apresentador Roger Cipó

Retrato dos apresentadores do programa "Preto a Porter" - Divulgação
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Campinas

Uma série de cinco episódios semanais sobre negritude, acessível para qualquer tipo de público: essa foi a proposta apresentada pelo diretor Rodrigo Pitta para o programa do Canal UOL "Preto à Porter", que estreia nesta terça (24). O nome do projeto foi inspirado no primeiro álbum de Preta Gil, "Prêt-à Porter", lançado em 2003.

Segundo a apresentadora e roteirista Caroline Sodré, a referência reflete o conceito do programa: olhar com outras lentes para a negritude, "dessa vez, olhando para a realeza, para os orgulhos, para as construções coletivas, para o valor de tudo que fizemos". "Construímos esse país do zero, com muito sangue... Mas transformamos a dor em ouro", afirma.

Além de apresentadora e roteirista, Sodré é professora de história e especialista em diversidade e inclusão. Para ela, essas interseccionalidades contribuem para uma compreensão de mundo mais ampla e desafiadora. "Estou sempre em mudança e isso é parte de mim. Poder falar da minha verdade, que não é só minha, é coletiva, é um privilégio sem tamanho."

Outro apresentador é Roger Cipó. Comunicador e fotógrafo profissional há 10 anos, ele conta que a mudança de trás para a frente das câmeras foi um desafio. Caracterizado por fotografar "de dentro", ao compartilhar suas próprias relações e vivências, como em fotos que retratam terreiros de candomblé, Cipó se propõe compartilhar suas experiências também no programa.

"E agora eu tenho a oportunidade de apresentar e de me colocar à disposição desses discursos, de trazer o meu rosto, a minha identidade, aquilo que eu visto, aquilo que eu penso também, e aí personificar isso na imagem de um apresentador, que é algo que a gente ainda não tem. Não temos a imagem de apresentadores pretos naturalizada na TV."

Para ele, o programa é um passo importante, ainda que tímido. "A indústria do entretenimento ainda é racista. O movimento social e a ação de agentes pretos e pretas na cultura vão mobilizando a gente para um outro lugar. E aí a gente vai restabelecendo."

Ele destaca que a equipe é composta por pessoas negras, da produção à pós-produção. Cipó comenta a parceria com os apresentadores Hélio de La Peña, Neyzona (Loo Nascimento) e Caroline Sodré como uma ampliação de possibilidades de ser. "Somos pessoas de gerações, locais, formações e identidades diferentes. E isso, de alguma forma, ajuda a humanizar a presença de pessoas negras no lugar do entretenimento", conclui.

Idealizado desde setembro de 2020 e produzido em meio à pandemia, o programa, reforça Sodré, é para todos os públicos. "Queremos o Brasil parando para entender melhor sobre a história negra deste país. Isso é urgente!"

Onde assistir: Canal UOL

Zapping - Cristina Padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

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