Uma das coisas que mais leio sobre a maternidade é a frase: "Vou revelar o que não te contaram sobre ser mãe". É o chamariz perfeito para cliques em textos e vídeos nas redes sociais, prometendo o que não podem entregar: segredos que nunca foram falados sobre ter filhos.

A verdade é que isso não existe. Ao menos no mundo atual. As verdades sobre a maternidade estão todas postas de forma clara, para quem quiser ver. Basta prestar atenção.

A gente é que não quer ouvir, ler ou enxergar. Aliás, hoje, as verdades sobre as dificuldades do mundo materno estão tão presentes que podem, inclusive, ajudar uma mulher a escolher se ela quer ou não ser mãe.

Foi-se o tempo em que a felicidade residia apenas em casar e ter filhos, ou seja, no qual a mulher era resumida apenas a ser reprodutora e mera cuidadora. Hoje, há caminhos. Ainda tentam nos direcionar, mas há outros caminhos possíveis para a felicidade feminina. Também foi-se o tempo em que o sofrimento materno era algo sacralizado e vivia-se em segredo, escondendo-se as dores.

As verdades sobre o mundo materno são muitas e cada um que conhece uma mãe (pode ser a sua mãe mesmo) se prestar bem atenção saberá entender que não é fácil exercer a maternidade.

No entanto, há um rosário de lamentações de mulheres dizendo que nunca lhe contaram sobre como seria difícil cuidar de um outro ser humano. Contamos. Todas nós, o tempo todo. Contamos as dificuldades maternas nas rodas de mulheres desde os ancestrais dos meus ancestrais.

Eu participei de discussões sobre sono, amamentação, alimentação e tantas outras questões antes mesmo de entender como é que, biologicamente, se concebia um bebê.

Minha mãe, tias, avós, vizinhas e mães de minhas amigas sempre mostraram a verdade nua e crua. Mas eu, como não vivia aquela realidade, não prestava muita atenção.

E acho que isso ocorre com a maioria das mulheres ainda hoje, em um mundo tão cheio de acesso à informação. A gente está aqui, revelando todos os segredos da maternidade, diariamente, mas as já mães e as futuras mães não querem ouvir ou prestar atenção até que vivam as suas próprias experiências.

É justo, é o caminho e é a melhor forma de aprender sobre algo, ainda mais quando esse algo é sua vida e a vida de seu filho. Mas ouvir e prestar atenção no que os outros já viveram e tentar tirar lições dessas experiências pode facilitar o caminho. Por isso ouço histórias. Por isso conto histórias.

Colo de Mãe

Cristiane Gercina, 42, é mãe de Luiza, 15, e Laura, 9. É apaixonada pelas filhas e por literatura. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é jornalista de economia na Folha. Opiniões, críticas e sugestões podem ser enviadas para o email colodemae@grupofolha.com.br.