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Colo de Mãe
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A morte de Marília Mendonça e a certeza de que colo de mãe é insubstituível

A partida precoce da cantora, de forma trágica, dói ainda mais porque ela deixou um filho bebê

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São Paulo
Agora

Quando um ser humano se vai, não perdemos apenas mais uma pessoa que ocupava espaço neste mundo. Morre-se alguém que gostava de macarrão, que sorria de forma diferente, que era mãe, que era filha.

A morte precoce da cantora Marília Mendonça, rainha da sofrência e fenômeno superlativo da música popular no Brasil, com apenas 26 anos em um trágico acidente de avião na sexta-feira (5), expõe todas essas perdas. Sofremos não apenas porque uma mulher jovem, com uma carreira promissora, se foi, mas dói, principalmente, porque a pessoa que morreu era a mãe de uma criança de menos de dois anos.

Marilia Mendonça com o filho Léo - Instagram/mariliamendoncacantora

Léo, o filho da cantora sertaneja com o também sertanejo Murilo Huff, seu ex-companheiro, estava com o pai no momento do acidente. E assim deverá permanecer. É mais uma criança que crescerá sem mãe neste mundo.

Perdi uma amiga jovem há pouco. E falei sobre isso nesta coluna. Aos 37 anos, ela morreu com uma doença congênita do coração, da qual não tinha conhecimento, deixando uma filha de cinco anos de idade. Essa dor ainda não saiu de mim e se agravou com a morte de Marília.

Dentre todas as repercussões e comentários sobre sua morte, duas me tocaram mais profundamente. O padre Fábio de Mello, com sábias palavras que só um religioso como ele tem, traduziu profundamente o sentimento de muitas mães: "Não é só uma voz que se cala; é uma filha que se foi, é uma mãe que não volta", escreveu nas redes sociais.

A outra postagem foi da deputada Marília Arraes (PT-PE), que lamentou a morte de sua xará dizendo exatamente o que eu penso: não morreu apenas uma mulher, morreu a mãe do Léo.

E, sim, nós mães temos dois grandes medos, de perder um filho (isso a gente não gosta nem que passe em nosso pensamento por um segundo sequer) e de morrer. Para mim, o maior medo de uma mãe é morrer e deixar seus filhos órfãos.

Quando eu estava grávida das minhas meninas, hoje com 14 e nove anos, não tinha muitas crises de ansiedade, como é comum ocorrer nas gravidezes. Não havia em mim aquela vontade de ver o rosto delas antes da hora. Havia muita calmaria. Mas meu medo de morrer era enorme. Era tão grande que, sempre perto das 40 semanas de gestação, quando o parto se aproximava, eu sonhava que morria ao dar à luz.

Não há o que mais me toque do que ver filho perder mãe. Mesmo sabendo que a vida se reconstrói, mesmo sabendo que há um pai ao lado. Nada me dói mais do que saber que uma criança vai crescer sem ouvir a risada de sua mãe, sem sentir seu cheiro, sem ter seu abraço e ser acolhido quando as coisas ficarem difíceis. Colo de mãe é insubstituível.

Não há muito o que se fazer. A morte é uma das poucas certezas da vida. A pandemia de Covid-19, inclusive, deixou 12.211 órfãos com até seis anos no país, segundo dados divulgados pela Arpen-Brasil (Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais).

Não sabemos quando será o último abraço, por isso, o caminho é abraçar, amar e beijar sempre. Até quando a vida nos permitir.

Colo de Mãe

Cristiane Gercina, 42, é mãe de Luiza, 15, e Laura, 9. É apaixonada pelas filhas e por literatura. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é jornalista de economia na Folha. Opiniões, críticas e sugestões podem ser enviadas para o email colodemae@grupofolha.com.br.

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