2020, o ano que moldou a maternidade
Ser mãe é um movimento constante de se adaptar à realidade, mas a pandemia marcará uma geração
Não há dúvidas que cada nova fase de um filho nos marca e nos muda. No começo, elas vão passando conforme os meses avançam no calendário. Depois, os marcos são os crescimentos a cada aniversário e, por fim, os anos começam a nos moldar.
A cada novo ano, a partir de 1º de janeiro, sabemos que começará uma nova etapa na vida escolar e isso, em geral, determina o rumo dos comportamentos maternos. Ao menos aqui em casa é assim. Ao iniciar determinado ano, nos organizamos para as novas fases, obrigações e rotinas e definimos quais serão os novos aprendizados das meninas em todas as áreas.
O ano de 2020 parecia que seria como os outros. Embora o vírus da China fosse real, a gente não sentia a proximidade dos fatos até que eles chegaram até nós. E tudo mudou. Foi preciso refazer a rota e alterar os planos.
Fomos trancados em casa. E a maternidade sofreu. As mães chegaram ao limite da exaustão. Vivenciaram o machismo da sociedade na pele —mesmo para as que rechaçam a ideia—, tiveram que lidar com suas próprias sombras e com a livre demanda da dedicação materna, que é necessária independentemente da idade da criança ou do adolescente.
As aulas online nos consumiram, assim como o trabalho de dona da casa e o home office profissional. Mãe não teve direito a maratonar série, a fazer rotina de cuidados com a pele ou de sentir o tédio que é ter como única opção de lazer filmes e lives. A mãe teve que equilibrar os pratinhos da maternidade com os da feminilidade. Teve que buscar seu espaço de cuidado e autoamor em meio ao caos.
Houve ainda as que não tinham onde deixar o filho, as sem emprego e as que tiveram que escolher entre mandar a criança para a escola, meses após o isolamento, mas com uma grande possibilidade de contaminação, ou deixar em casa, em meio a uma outra pandemia, de excesso de telas, de falta de exercício físico, de ansiedade e depressão. Não foi fácil ser mãe.
Nossa maternidade será moldada para sempre pelo ano de 2020. Como você viveu a sua maternagem? O que você fez de diferente? O que você não faria nunca mais? Quais as lições que ficaram?
Eu exercitei e ensinei a resiliência como nunca antes. Deixei planos para trás e orientei a refazer rotas.
Busquei ser menos pêndulo —oscilando entre permitir e proibir— e fui muito mais incisiva nas verdades que acredito: é preciso ser exemplo sempre, é preciso não permitir racismo, machismos, homofobias e todo tipo de crime contra a humanidade. Ensinei ainda mais a solidariedade.
Mas vivenciei, na pele, o que é ser comandante de um barco onde suas atitudes são importantíssimas. Com isso, busquei o melhor de mim, interna e externamente. Mudei a alimentação, policiei-me sobre o que eu falo e desejo.
Ensinei compaixão, fortaleci laços e mostrei às minhas meninas que não importa o quanto a bondade seja difícil de se alcançar, mas é o único caminho a se percorrer para que tenhamos uma sociedade verdadeiramente justa.
E a justiça da qual falo é a social. Saúde, comida, teto, educação, cultura e lazer são os pilares que devemos percorrer em busca de nosso melhor como sociedade. Minha maternidade nunca foi tão pautada pelos pilares da vida em comunidade, mesmo no isolamento social, mas respeitando a individualidade de cada ser.
É certo que errei tentando fazer o melhor, mas 2020 foi o ano da maternidade mais real possível.
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