Colo de Mãe
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Vídeo de briga de irmãs em aniversário expõe tabu da rivalidade entre irmãos

Brigas são comuns, mas competição existe nas famílias e precisa ser trabalhada

Quem pensa que é difícil pacificar politicamente o país nunca precisou apaziguar briga de filho - tatyanadjemileva - stock.adobe.c
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Era uma festa de aniversário familiar comum, mas, de repente, um vídeo da hora do parabéns tomou proporções que a família não imaginava. Duas crianças brigaram no momento, o que foi motivo para que as duas se transformassem em memes nas redes sociais.

Foram muitos deboches e também muitas críticas, já que divulgar a imagem de crianças vai contra o que diz o Estatuto da Criança e do Adolescente.

Não sou ninguém para julgar o vídeo que viralizou e imagino como a mãe deve ter ficado, já que a reação das duas meninas foi de raiva. No entanto, nós mães sabemos que crianças são surpreendentes e, mesmo que você lhes dê a melhor educação do mundo, podem te fazer passar vergonha em momentos delicados.

Acredito que a ocasião pode nos fazer debater um assunto que é tabu: a rivalidade entre irmãos. Ela existe e deve ser trabalhada nas famílias, conforme a orientação de psicólogos e psicanalistas.

No caso do vídeo, talvez a vontade de apagar as velas, a cara de deboche e a sanha vingativa de uma pequena criança, além da reação violenta e visceral da outra nada mais seja do que um comportamento sincero diante dessa realidade que jogamos para baixo do tapete, que é a competição entre os que moram na mesma casa.

Estudos indicam que, mesmo sem perceber, muitos pais e até outros parentes acabam estimulando essa competição. Comparações, tratamentos diferenciados e até a concessão de certos privilégios para um dos filhos pode ter consequências desastrosas.

Há casos graves. E o mais famoso deles é a história bíblica de Caim e Abel. Caim matou Abel por inveja, dizem os religiosos, mas, para os psicanalistas, a explicação é clara: a rivalidade entre eles é que levou a essa atitude extrema.

Em geral, os filhos mais velhos costumam ter um certo ciúme —totalmente natural e emocionalmente saudável— e acabam competindo com os mais novos pela atenção dos pais. Pudera. O caçula, o último a chegar na família, recebe os cuidados especiais que todo bebê precisa, e essas lembranças podem ficar muito marcadas entre os demais irmãos.

De fato, esse privilégio natural do mais novo (ou, muitas vezes, dos mais velhos, já que a estreia no mundo da maternidade e da paternidade nos deslumbra mesmo) é motivo pra despertar ciúme nos demais. Mas o bom é que se pare por aqui. Que esse ciúme saudável seja entendido, acolhido e tratado de forma natural.

Inveja e competitividade em família não são bacanas. Por isso, é preciso desestimular tais práticas e corrigir os arroubos sempre que for possível. E, no mais, é tão bonito ver o olhar de cumplicidade entre irmãos, a mão estendida, a amizade e o sentimento mais belo que já presenciei: admiração.

Aqui em casa, temos as competitividades, brigas, ciúmes e as disputas por espaços e por se colocar no mundo como um ser humano único. Isso ocorre em qualquer família onde haja mais do que um filho.

Mas o que tem de mais bonito é a admiração e o cuidado. E é essa parte da irmandade que procuramos cultivar. A mais nova ainda olha para a mais velha como se estivesse admirando uma deusa greco-romana. Da primogênita, por sua vez, eu ainda ouço, nos dias atuais, o mesmo tom de voz que ela usava quando a irmã era bebê, ao cuidar e tentar acalmá-la.

Se é difícil ser mãe e pai no que diz respeito ao trabalho braçal de criar uma criança, essa tarefa se torna ainda mais árdua quando entramos em questões psicológicas. Não precisa haver culpa nem medo, apenas orientação dos sentimentos para que sempre prevaleça o amor e o respeito.

Agora

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Cristiane Gercina, 42, é mãe de Luiza, 15, e Laura, 9. É apaixonada pelas filhas e por literatura. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é jornalista de economia na Folha. Opiniões, críticas e sugestões podem ser enviadas para o email colodemae@grupofolha.com.br.

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