Colo de Mãe
Descrição de chapéu Agora

Mãe em isolamento social não tem rotina de relaxamento

Às vezes, eu consigo respirar

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Respire profundamente por quatro vezes antes de tomar qualquer decisão quando se está sob estresse. Acredito que esse tenha sido o maior aprendizado em um curso online sobre emoções que fiz no último mês.

A dica, que eu já tinha recebido de uma amiga especialista em ioga, veio seguida de outras possibilidades antes de explodir de raiva, tristeza ou desapontamento.

Segundo os ensinamentos, a gente pode beber água, comer ou dar uma volta antes de tomar atitudes das quais podemos nos arrepender depois. Rezar também vale. Adorei-as e, nos momentos de desespero, uso todas de uma vez.

E as tensões maternas são gigantes. Então, pensem na quantidade de vezes que bebo água, dou voltas, respiro, rezo e como e, mesmo assim, às vezes, dou um grito para que a paz se estabeleça e reine em meu lar por segundos.

No isolamento social há mais de 120 dias (tempo de uma licença-maternidade), as mães que trabalham em home office, cuidam de casa, tentam acompanhar minimamente a aula online e seguem tentando sobreviver não conseguem fazer nada mais que não seja respirar por alguns segundos (poucos!) como um momento de autocuidado.

Como me dá vontade de chorar quando converso com as amigas e o papo que rola é: “O que vocês têm feito no tempo vago?” A lista de respostas é sempre gigante. E não é só entre quem não tem filho. Mães com filhos também conseguem —vez ou outra, claro— fazer a unha, hidratar o cabelo e realizar uma limpeza de pele. Nessas horas eu choro duplamente quando ouço os relatos.

Em geral, eu sou a chata das lives que diz não poder assistir determinada série que está sendo indicada porque não tem tempo. Todos me ignoram e tentam minimizar minha vida corrida. Eu não ligo. A vida é minha e eu bem sei o que me cabe e como devo seguir com minha rotina.

O fato é que gente é coisa maravilhosa e, assim como eu, muitas mães estão atarefadas demais com a nova rotina. Sempre recebo relatos e sou procurada por quem não sabe mais como lidar com a situação e está a ponto de enlouquecer. Em uma dessas conversas, a mãe-amiga me perguntou o que eu faço para relaxar.

Estávamos rindo do fato de que não conseguimos ter rotina como as pessoas “normais” que estão em distanciamento social como nós. Ela, com filhos menores do que as minhas, estava ainda mais sufocada, quando eu contei meu segredo de beleza: “Ah, às vezes eu respiro”, eu disse.

E a conversa ficou ainda mais engraçada. Respiro e tomo chá. E está tudo bem!

Agora

Colo de Mãe

Cristiane Gercina, 42, é mãe de Luiza, 15, e Laura, 9. É apaixonada pelas filhas e por literatura. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é jornalista de economia na Folha. Opiniões, críticas e sugestões podem ser enviadas para o email colodemae@grupofolha.com.br.

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