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Precisamos falar sobre a saúde mental das crianças na pandemia

Pesquisa mostra impactos psicológicos em crianças e adolescentes com isolamento social

Gennadiy Poznyakov - Fotolia
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Minha filha caçula, Laura, completou oito anos em plena pandemia do novo coronavírus. Nascida em 13 de julho, Laura, assim como muitas crianças um pouco maiores, acreditava que iria comemorar o aniversário com festa e muitos abraços, como sempre ocorreu até agora em sua vida.

Mas a realidade veio dura. Em março, quando começamos o distanciamento social por causa da Covid-19, embora soubéssemos que a situação poderia perdurar por quatro meses, ainda acreditávamos que, passado este período, já estaríamos voltando à normalidade. Grande engano.

Estamos sim avançando na flexibilização das regras no estado de São Paulo, mas com uma média de mil mortes por dia no país e com quase 2 milhões de casos confirmados da doença, ainda não é prudente fazermos uma festa de aniversário com aglomeração.

A situação da minha pequena é a mesma de milhares de crianças e adolescentes mundo afora. De repente, um vírus microscópio tirou a liberdade das crianças, que não podem mais encontrar os amiguinhos da escola todo dia, não fazem mais reuniões familiares e não podem brincar soltos nas áreas comuns dos condomínios.

Ao menos em minha casa e nas de tantas outras famílias que ainda não se sentem seguras para fazer tudo como antes. Celebramos o dia de seu aniversário com bolo, fantasia, parabéns, brincadeiras, decoração e presentes, mas sabemos que não é o suficiente para ela, mesmo que demonstre serenidade.

Aparentemente, crianças e adolescentes se adaptaram facilmente à nova rotina, o que faz com que os holofotes se voltem para a saúde mental das mães e dos pais, que estão exaustos, deixando um pouco de lado os danos psicológicos que a pandemia causa em nossos filhos, principalmente nos menores, que não sabem explicar exatamente os sentimentos que lhes tomam.

Relatório do NCPI (Núcleo Ciência Pela Infância) trouxe uma pesquisa feita na China, com pais de 320 crianças e adolescentes, mostrando os impactos da pandemia neste público. Intitulado de “Repercussões da Pandemia de Covid-19 no Desenvolvimento Infantil”, o relatório aponta que, do total de crianças e adolescentes pesquisados, 36% demonstram dependência excessiva dos pais, 32% apresentam desatenção, 29%, preocupação, 21%, problemas de sono, 18% tiveram falta de apetite, 14%, pesadelos e 18%, desconforto e agitação.

Eu já falei aqui nesta coluna sobre os sintomas que percebo em minhas meninas, como falta de apetite, insônia e até certo entristecimento. Não é todo dia que isso ocorre, mas há momentos em que elas, assim como eu, também ficam desanimadas. E tenho conversado com muitas mães que relatam esses sintomas e impactos no dia a dia das crianças.

Há casos em que o filho, que era autossuficiente e cheio de segurança, mostra-se inseguro, principalmente nas aulas online. Nos grupos de mães dos quais participo —além das mães e pais com os quais falo com frequência— não houve um dia sequer que eu não tenha recebido relatos de tristeza materna ou paterna ao ver o filho sofrer, chorar após dar uma resposta errada a um professor ou questionar quando toda essa pandemia vai acabar.

A troca de informações e sentimentos maternos e paternos me alenta. Não sou especialista em saúde mental, mas acredito que o caminho do acolhimento é sempre o melhor. Todas às vezes que me perguntam o que fazer, se devem tirar o filho da escola, mudar de horário ou desistir do ano escolar eu digo para respirar, ter paciência e olhar o lado bom.

Minha Laura, a aniversariante do mês, não tem mais dormido sozinha, pois os pesadelos eram constantes e isso a fazia acordar desesperada de madrugada. Eu, que preciso trabalhar, limpar casa e estar inteira no outro dia para atender a ela e a irmã não pensei duas vezes: voltei oito anos no tempo e resolvi dar à minha pequena a segurança dos primeiros dias de vida.

Durmo com ela. Acordo com dores no outro dia, mas sei que a confiança da pequena vai, aos poucos, sendo reforçada, e, com isso, a minha confiança materna também. É tempo de acolhimento. Apenas isso.

Agora

Colo de Mãe

Cristiane Gercina, 42, é mãe de Luiza, 15, e Laura, 9. É apaixonada pelas filhas e por literatura. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é jornalista de economia na Folha. Opiniões, críticas e sugestões podem ser enviadas para o email colodemae@grupofolha.com.br.

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