Ser mãe de menina é ensinar que o poder feminino é diário; não é jogada de marketing
Minhas garotas me desafiam a ser melhor a cada dia; porque criar filhas não tem sido fácil
Eu sou mãe de duas meninas. Duas garotinhas lindas e completamente diferentes. Elas são iguais em apenas uma coisa: têm os olhos grandes. Eu sempre quis ser mãe de menina. E a vida me presenteou com duas. Aqui, faço pausa para explicar que, se eu tivesse filhos meninos, eu os amaria do mesmo jeito. Maternidade é loteria com prêmio milionário.
Quando eu tinha 17 anos, minha menina já tinha nome: Luiza. E, há 13 anos, minha Luiza nasceu. Chegou do jeito que eu sonhava, como uma Emília, de Monteiro Lobato. E trouxe algo a mais. Além de ser uma boneca falante e sorridente, sempre foi contestadora, como Mafalda, de Quino, e já saiu da maternidade com os olhos enormes de “cigana oblíqua e dissimulada”, como Capitu, de Machado de Assis, minha personagem preferida da literatura. É minha menina cheia de poesia.
Quando me achava totalmente presenteada, descobri a gravidez-surpresa de Laura e ganhei minha segunda personagem de literatura, com olhos de Capitu, sagacidade de Emília e vontade de mudar o mundo como Mafalda.
Ser mãe de meninas é maravilhoso. É um universo à parte. Minhas meninas enchem meu dia de cor, poesia, amor e muita intimidade a ser compartilhada. Mas ser mãe de meninas nos dias de hoje não tem sido fácil. Os desafios são tão grandes quanto os enfrentados por minha mãe, a mãe de minha mãe e todas as gerações de mulheres que lutaram para que chegássemos até aqui um pouco mais livres.
O 8 de março, Dia Internacional da Mulher, deve ser celebrado com as memórias de tantas lutas. E com a certeza de que somos fortes. Houve um tempo em que as mulheres não podiam ir à escola. Uma época em que não podiam votar, não trabalhavam e, muito menos, davam opiniões. E, hoje, podemos bradar nossas vozes aos quatro ventos em redes sociais, enfim, em todo canto.
A dificuldade atual está no fato de que, embora tenhamos avançado muito, a situação feminina ainda é precária. O salário de uma mulher em um mesmo posto que um homem é, em média, 30% menor. Entre 2018 e 2019 os casos de feminicídio subiram 7,2% no país, de 1.222 para 1.310. São mulheres assassinadas por companheiros ou ex-companheiros.
Chegamos a 2020 e, na Assembleia Legislativa do Mato Grosso do Sul, não temos nenhuma deputada mulher. São retrocessos, no que foi classificado por um colega de profissão de “Revolução Conservadora”.
E há mulheres defendendo o fato de que mulheres não devem ter voz e vez. Defendendo que fiquemos confinadas no espaço doméstico, longe das grandes decisões sociais e submissas ao marido e ao casamento.
Por tudo isso é que tem sido tão difícil criar filhas. Às minhas meninas eu ensino que não há limitações por nossa condição feminina. Ensino-as a sempre respeitar para sermos respeitadas, mas digo que jamais devem baixar a cabeça quando alguém quiser passar por cima. Não nos submeteremos e vamos, sim, ocupar os espaços que quisermos.
Minhas filhas são minhas grandes companheiras de jornada na existência. Juntas, falamos sobre tudo. De amor, dor, relacionamentos e, claro, sobre a tão repetida expressão “girl power”.
Em minha casa, o poder feminino não é uma marca ou uma jogada de marketing para se colocar no universo atual, mas é uma ação de vida, algo inerente a nós, mulheres, como seres humanos e sociais que somos. Porque elas podem, sim, ser o que quiserem. E nada nem ninguém dirão o contrário. Sou doce e elas também são. Mas sou combativa. Dia de mulher é todo dia!
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