Preparar a lancheira dos filhos é se reconectar à herança familiar e à cultura
Comer bem é entender sobre o que colocar no prato e como isso afeta a todos
Sou filha de uma doceira. Minha mãe é uma cozinheira de mão cheia. Faz bolos maravilhosos e também arrasa nos salgados. Minhas meninas adoram as comidas da avó e, consequentemente, são muito ligadas à culinária. Amam ir para a cozinha.
Quando eu era adolescente e minha mãe queria me passar o seu ofício, eu torcia o nariz. Mas ela insistiu. O resultado foi que, na faculdade, eu era uma das poucas que sabia cozinhar —Dani, que morou comigo, também cozinhava muito bem. E saber cozinhar é muito importante quando se mora longe da família.
O fato é que a vida nos molda e, mesmo antes de ser mãe, eu entendi o quanto é importante nutrir uma família. Foi por isso que me dediquei a amamentar minhas duas meninas em livre demanda, exclusivamente no peito por seis meses, mesmo trabalhando de dia, de noite, de madrugada, aos sábados, domingos e feriados (vida de jornalista!).
Nas minhas pesquisas sobre alimentação, descobri que o leite materno era o alimento mais completo do mundo e o segundo seria a água de coco. E dá-lhe água de coco nas duas meninas que, hoje, torcem o nariz para essa delícia.
Sempre rimos dessa história e de como as mães são todas malucas na hora de oferecer comida para os filhos. E, mesmo com as recusas de minhas meninas a vários alimentos, eu insisto. Sigo o exemplo de minha mãe. Minhas filhas, assim como muitas crianças, também dão trabalho para comer e selecionam os alimentos. Preferem doces a frutas, legumes e verduras. É normal.
Mas eu insisto. Insisto porque comida é afeto, é cultura e é herança familiar. Nessa meta de insistir no melhor alimento para elas, tenha visto o quanto a lancheira escolar é importante para moldar os hábitos alimentares.
Minha caçula começou a levar lanche neste ano para a escola. Onde ela e a mais velha estudam, há um programa nutricional no qual, nos primeiros anos, quem nutre a criança é a escola. Agora, aos sete anos e no segundo ano do ensino fundamental, preparamos o lanche juntas. Eu e a pequena. Ou eu e a mais velha que, aos 13, já é escolada nesse negócio de levar lanche.
Nessas horas, percebo o quanto a comida nos une e pode se tornar mais um momento de colecionar lembranças. Não só a experiência à mesa, mas também a possibilidade de preparar o seu próprio alimento é importante. Não é fácil fazer a lancheira diária, mas é um momento de se reconectar com o filho e encher o dia a dia dele de afeto, mesmo longe.
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