Ataques à honra de Patrícia Campos Mello atingem a todas nós; somos mães e exigimos respeito
Presidente Jair Bolsonaro insultou a jornalista da Folha com insinuações sexuais
Jornalista e mãe. É como eu me defino nos perfis de minhas redes sociais. Não sei se em todas elas, mas no WhatsApp certamente. Um amigo querido, o jornalista Sérgio Kraselis, me chama de “mãe”. Foi o apelido que me deu durante nosso convívio no jornal Agora.
Outro amigo e mestre, Luiz Carlos Duarte, chamava-me, com efusividade nos horários de fechamento do jornal —quando a redação vira um loucura— de “mãe da Laura”, ao que eu sempre emendava: “E da Luiza também”.
Formei-me há 19 anos. Um mês depois, comecei a trabalhar. Trabalho em Redação há 18 anos, o que quer dizer que, desde que me entendo por mãe (minha filha mais velha tem 13 anos), trabalho em Redação. São dias e noites dedicados ao jornalismo. São feriados, férias e finais de semana em que tenho que estar comprometida com a minha profissão. E com a maternidade. O que não é fácil.
Temos poucas mães nas Redações. E acredito que isso ocorra por se tratar de uma rotina realmente muito pesada. Muitas abrem mão do trabalho. E outras nem querem ter filhos. Esse comprometimento com a profissão não é só meu.
Ao meu entorno na Redação há algumas mães. Todas comprometidas com o trabalho. Empenhadas em fazer um jornalismo sério e dedicadas a criar seus filhos da melhor forma. Uma delas é Patrícia Campos Mello, jornalista premiada e competente, que foi recentemente atacada pelo presidente Jair Bolsonaro em insinuações sexuais e machistas, que atentam contra sua honra e seu trabalho.
Patrícia é mãe. Assim como eu. Patrícia senta-se em sua cadeira, em frente ao seu computador, e dedica-se a fazer um dos trabalhados mais primorosos de apuração jornalística que conhecemos. Debruça-se sobre documentos, entrevistas e gravações.
Viaja o mundo e o país fazendo reportagens das mais importantes. E segue sendo mãe. Não é fácil para mim, para ela e para nenhuma de nós vivermos a rotina estressante de uma profissão que exige tanto. E fica ainda mais difícil quando temos filhos.
Mas, quando somos atacadas sem um mínimo de respeito à nossa condição humana, de mulher, profissional e, principalmente, mãe, chega ser doído.
Quando se é jornalista, o compromisso com a verdade dos fatos é imprescindível, mas quando se é mãe, criar seres humanos decentes é nossa missão. Pode ser que o presidente não entenda a importância de se respeitar jornalistas, mas certamente sabe quanto uma mãe merece ser respeitada.
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