Colo de Mãe
Descrição de chapéu Agora Coronavírus

Em meio ao coronavírus, minhas filhas estão em casa e eu, como muitas, sigo trabalhando

Confinamento testa nossos limites, e sair nas ruas com a pandemia não é fácil

Funcionaria do CEI Jesus Rei, coloca cartaz alertando sobre o coronavírus, escolas e creches fecharam na capital - Rivaldo Gomes 16.mar.20/Folhapress
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Distanciamento social. Quarentena. Confinamento. Seja qual for o nome que dermos para os duros dias que estamos vivendo por causa do coronavírus, nada mudará o fato de que passaremos um bom tempo trancados em nossas casas e apartamentos.

Não tem sido fácil. E olha que o isolamento está só começando. A maioria das famílias parou as atividades na segunda-feira (16), com o início do fechamento das escolas. Mas há quem já estava em casa antes, como é o nosso caso.

Optamos pelo afastamento social na sexta (13), quando minha mãe deixou de ir em casa, meu marido começou a fazer home office e as meninas estiveram na escola pela última vez. No primeiro final de semana, lidamos com a restrição de forma bem-humorada, assistindo filmes, organizando a casa, cozinhando e nos arrumando como se fôssemos a uma festa, sabendo que não iríamos a lugar nenhum.

Parecia fácil e divertido, mas o fato é que o confinamento testa nossa ansiedade e nos coloca no limite. Ainda mais quando se tem crianças em casa. Ainda mais quando ninguém sai, somente a mãe que precisa trabalhar.

Sou jornalista e, como as mães que são médicas, enfermeiras, policiais, domésticas e que trabalham recolhendo lixo (ou em qualquer outra profissão essencial, que não pode parar), tenho que exercer minha profissão todos os dias. E cumprir uma rotina ainda mais estafante.

Confesso que não tem sido fácil. É difícil para quem sai, é desafiador para quem fica. Por motivos de segurança sanitária, sou eu quem vai a supermercado, farmácia ou padaria. E tenho evitado esses locais o máximo possível.

Ao chegar em casa, tenho uma rotina de desinfecção das roupas, das coisas que trago da rua e das mãos. Não como nada sem antes ter tomado banho e utilizo álcool e demais desinfectantes em todos os objetos que toco ou passo perto na casa.

Ao acordar, pela manhã, tento sorrir. E, até agora, não tive coragem de contar que sei de pessoas diagnosticadas com a doença. Não quero causar pânico nas meninas. Laura, a caçula, perdeu o sono dia desses. Questionou-me se haveria Páscoa e lamentou o fato de que gosta muito de fazer a caça aos ovos na casa da vovó.

“Teremos Páscoa, sim, Laurinha. Só que vai ser diferente”, eu disse a ela. “Teremos Páscoa, aniversários e domingos de sol, com teatro, comilança e abraços em família.”

Para Luiza, a mais velha, digo com voz doce e calma que “quatro ou cinco meses passam rápido”, como se o tom diminuísse o avanço do coronavírus. “O importante é estarmos juntas, termos coragem e entendermos que somente a solidariedade e a justiça social vão nos salvar.”

Mas o que eu realmente queria dizer para as minhas meninas é que a vida é essa montanha-russa de emoções em que somos instigados a vencer medos e sermos melhores a cada dia. Que mesmo sem o coronavírus nunca dá para saber se voltaremos para casa e que os abraços já dados são as únicas certezas desta vida.


HOME OFFICE

Por causa da crise do coronavírus, empresas começaram a autorizar funcionários a trabalhar remotamente. No outro lado, todos os estados cancelaram aulas na rede pública estadual. A suspensão também vale para a rede municipal das capitais, e alguns colégios particulares adotaram a medida.

Mas como fica conciliar o trabalho com o tempo ocioso das crianças? Leitores da Folha mandam os seus relatos e contam como estão adaptando a rotina em meio à pandemia.

Se você ou parentes estão fazendo home office, ou seu seus filhos estão em casa em decorrência da pausa nas escolas, mande seu relato. É só escrever para o email enviesuanoticia@grupofolha.com.br. ​

Agora

Colo de Mãe

Cristiane Gercina, 42, é mãe de Luiza, 15, e Laura, 9. É apaixonada pelas filhas e por literatura. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é jornalista de economia na Folha. Opiniões, críticas e sugestões podem ser enviadas para o email colodemae@grupofolha.com.br.

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