Colo de Mãe

Ensine seu filho a comer bem para não passar vergonha no futuro

Não crie seu filho para se alimentar de macarrão instantâneo, como fez Bolsonaro no Japão

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Descrição de chapéu Agora
São Paulo

Quando nasce um filho, nasce uma mãe, diz o ditado popular. Mas não é bem assim. Para mim, quando nasce um filho, nasce uma gama de dúvidas e uma série de dificuldades.

Um filho te faz ter de lidar com questões que, antes, você jamais teria imaginado que precisaria enfrentar. Muitas vezes, a mãe precisa ensinar sobre determinado assunto quando nem ela mesma conseguiu aprender ou chegar a uma definição sobre o tema.

Há quem diga que ensinar um bebê a dormir está entre as maiores dificuldades maternas. Para mim, ensinar a comer bem é o maior desafio da maternidade, pois é algo constante, que exige novo direcionamento a cada fase.

Comer bem não significa comer muito ou pouco. Comer bem, para mim, é alimentar-se de forma variada, além de estar aberto a novos alimentos e a vivenciar experiências gastronômicas.

 

Dito assim, no papel, parece algo muito fácil. Na prática, não. A alimentação de uma criança começa na amamentação. E aí o bicho pega. Porque amamentar não é natural e instintivo, como parece, mas exige preparo e muita dedicação. Os especialistas em aleitamento materno dizem que amamentar é 90% dedicação e 10% produção de leite. Concordo.

Depois, à medida que a criança vai crescendo, a introdução alimentar é um novo desafio. E, na sociedade moderna, torna-se ainda mais complexa. Sem tempo, muitas vezes, acabamos oferecendo alimentos processados —não vou nem falar de quem oferece ultraprocessados, como suco de caixinha, por exemplo. 

Mas entendo, aceito e respeito quem, na correria, já deu um salgadinho ou um chocolate para um filho. Nem tudo é 100% saudável na vida materna.

No entanto, fazer da má alimentação um hábito pode levar a situações nada agradáveis no futuro, na vida adulta. Maus hábitos alimentares causam não só obesidade e outras doenças, mas faz com que percamos oportunidades de confraternizar e aprender sobre outras culturas. 

Como ocorreu com o presidente Jair Bolsonaro (PSL) em visita ao Japão. Bolsonaro não come peixe cru, por isso, não quis experimentar o alimento oferecido pelo país anfitrião. Ele comeu outros pratos. No hotel, resolveu alimentar-se com um macarrão instantâneo. 

Até pouco tempo, eu também recusava algumas comidas e bebidas. Não comia queijo, pizza ou tomava qualquer tipo de bebida alcoólica. Café preto, nem pensar. Eu era a “chata do rolê”, o que mudou depois que me tornei mãe.

Minha alimentação sempre foi saudável. Minha mãe fazia —e faz— questão de preparar tudo fresquinho, mas, por falta de grana, não costumávamos ir a restaurantes e experimentar novidades na infância.

Ao olhar para minha história, quis fazer igual e, ao mesmo tempo, diferente com minhas filhas. Segui e sigo os passos de minha mãe: cozinho, levo-as para a cozinha e dedico meu amor para alimentar a família. 

Também estimulo minhas filhas a confraternizar e estar em uma mesa com amigos e familiares sempre que posso. Aos poucos, no tempo delas, minhas meninas aprendem que devem se esforçar para experimentar alimentos novos e descobrir culturas.

Quando viajamos, experimentar comida é uma das diversões. Comer é delicioso, além de ser um ato político e uma forma de entender sobre o outro e de ser feliz.

Agora

Colo de Mãe

Cristiane Gercina, 42, é mãe de Luiza, 15, e Laura, 9. É apaixonada pelas filhas e por literatura. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é jornalista de economia na Folha. Opiniões, críticas e sugestões podem ser enviadas para o email colodemae@grupofolha.com.br.

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