No centro de São Paulo, comerciante resgata sanduíche de linguiça de Bragança Paulista
Casa Califórnia oferece 18 opções do sanduba feito na chapa
Na rua São Bento, entre vitrines coloridas, em meio ao andar frenético dos passantes e sob os gritos ensurdecedores dos camelôs, que vendem não-sei-o-quê, está uma pequena lanchonete. Junto do macilento calçadão, apenas duas portas sanfonadas guardam décadas da história gastronômica do centro de São Paulo.
Em pouco mais de 10 m², seja no pequeno balcão ou nas quatro mesas engenhosamente distribuídas, clientes entram e saem de maneira orquestrada. Os comensais que frequentam a pequena Casa Califórnia vão atrás de uma iguaria única: os sanduíches feitos com a legítima linguiça de Bragança Paulista.
A Casa Califórnia resiste na rua São Bento há 95 anos. Fundada em julho de 1924, a casa começou como um armazém de secos e molhados. Foi na década de 1960 que surgiu por lá o sanduíche feito com as tradicionais linguiças de Bragança Paulista. Os sandubas da linguiça se tornaram um marco no centro da cidade, que até o começo dos anos 1980 era um lugar vivo e pulsante.
A decadência que atingiu o centro de São Paulo a partir dos anos 1990 afetou toda a vida da região. A Casa Califórnia descaracterizou-se. Acabou como uma lanchonete qualquer e de qualidade duvidosa. Até que, em 2012, o comerciante Carlos Kley e sua família compraram o estabelecimento. “Tivemos de reformar toda a casa. Colocamos tudo abaixo, pois as instalações estavam totalmente precárias”, conta Kley.
O conhecimento da história do local motivou a família de Carlos a reativar a tradição da linguiça típica do interior paulista. “Decidimos resgatar essa tradição, que sempre foi a marca da casa”, diz.
O comerciante compra a iguaria artesanal de um produtor tradicional de Bragança. Elas já vêm cortadas e embaladas no formato próprio para a preparação dos sanduíches. A Casa oferece 18 opções do sanduba. A versão clássica, com vinagrete, custa apenas R$ 11. Aliás, vinagrete sem pimentão, como Kley faz questão de frisar aos clientes. O sanduíche, feito na chapa, é bem montado, e o sabor da linguiça é inigualável. Tenra e saborosa, sobressai o gosto do lombo suíno, que é um prazer ao paladar.
Se durante a semana o público é majoritariamente formado por funcionários de lojas, escritórios e consumidores do comércio da região, aos sábados uma clientela totalmente diferente frequenta a casa. “Vem muita gente visitar o centro aos sábados. Pessoas que viveram ou trabalharam aqui décadas passadas e, agora, trazem os filhos ou netos para conhecer a região. Muitas dessas pessoas vêm comer o sanduíche de Bragança. Tem gente que até chora emocionado. É a memória gastronômica”, conta Kley, com brilho nos olhos.
Apesar das dificuldades e do descaso do poder público, não só o comerciante, mas muita gente organizada aposta na revitalização do centro paulistano. Nessa pauta estão a recuperação de prédios históricos e museus, incentivo à arte, utilização dos espaços públicos, moradia, mobilidade urbana. E, por que não, a tradição gastronômica local? Bora viver os sabores do centro!
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