Boteco de São José do Rio Preto mantém a tradição ao usar tacho de ferro para fazer torresmo
Estabelecido há 18 anos, Bar do Serjão é simples e típico de bairro
Enquanto o músico Frank Ranier coloca uma nova corda lá na viola, um bando de anus-brancos expulsa os pardais, maritacas e andorinhas-azuis das árvores, que garantem uma providencial sombra sobre o pequeno Bar do Serjão.
O verão em São José do Rio Preto desta vez está implacável. O mormaço arde até na alma. Na calçada de um cimento irregular, amigos se reúnem pelas mesas espalhadas aleatoriamente. Se refrescam com algumas cervejas geladas antes do almoço. Talvez seja a última resenha de 2018.
A viola fica pronta. Frank dedilha um fá maior. Um dublê de cantor solta a voz: “Só existe um caminho pra nós dois.” Numas das mesinhas de plástico, o jornalista Júlio Garcia explica ao amigo Alexandre Gama, que a canção foi um grande sucesso da dupla João Mineiro & Marciano, nos anos 1980.
O aplicativo do celular mostra que a temperatura bate na casa dos 40º. Mas essa marca não é nada, se comparada ao calor do tacho de ferro. Montado pelo comerciante Sérgio Siqueira, o Serjão, junto ao meio-fio, o tacho é alimentado por vigorosas lascas de madeira de demolição. Difícil de encontrar nos botecos da periferia da capital, o tacho de ferro é uma tradição que ainda resiste no interior.
Fagulhas estalam enquanto a banha de porco borbulha a mais de 200º. Serjão busca na geladeira pedaços generosos de panceta. A iguaria é de primeira qualidade. O comerciante traz de um frigorífico da vizinha Potirendaba. Com cuidado, ele dispõe os preciosos nacos pelo tacho.
Em alguns minutos, a panceta se transforma num maravilhoso torresmo: pururucado, crocante e carnudo. Cada tira custa R$ 5. Serjão corta o danado em pedaços. Serve aos clientes num prato com rodelas de limão de sítio.
O boteco de Serjão e da esposa Ivani é muito simples. Típico de bairro. Daqueles que têm salsicha em conserva no balcão. O clima é muito gostoso. As comidas sempre caprichadas. Vizinhos, estudantes e trabalhadores, que passam pela avenida onde fica o estabelecimento, frequentam a casa.
Além do torresmo, o casal oferece mocotó, moela, dobradinha e refeições. Vez ou outra, Serjão transforma a estrutura do tacho em churrasqueira. Uma famosa costela no bafo é sempre aguardada ansiosamente pelos clientes da casa.
Estabelecido há 18 anos, o casal abre as portas todos os dias, e Serjão, com seu torresmo, mostra que é o cara do tacho!
Comentários
Ver todos os comentários