Sexagenário, restaurante Ita resiste ao tempo no centro de São Paulo com pratos clássicos
Qualquer opção do cardápio é felicidade na certa!
Existe uma expressão muito usada no mundo do futebol, que diz o seguinte: clássico é clássico e vice e versa. Trocando em miúdos, no jogo clássico, aquele disputado entre times grandes, não há favorito. É exatamente dessa máxima, que me recordo quando sento numa das banquetas do sexagenário Restaurante Leiteria Ita.
Simplesmente é impossível eleger um prato favorito dentre os clássicos da casa: bifes, almôndegas, milanesas, carne tostada, assada. bisteca, lombo, ovo com gema mole... Basta olhar para a tabuleta e escolher ao azar. Você não vai se dar mal. É pura sorte!
Localizado na pequenina rua do Boticário, região do Paissandu, do seu interior é possível observar o vazio deixado pelo edifício Wilton Paes de Almeida, que desabou em maio deste ano. O Ita foi inaugurada em 1953. Mas foi a partir dos anos 1970, que os irmãos João Pedro, 84, e Luís Pedro, 75, se tornaram proprietários da casa, apesar de trabalharem no local desde a década de 1950. Pedro se aposentou recentemente, mas seu filho Victor Pedro, 48, é quem está agora ao lado de Seu Luís.
O Ita respira história, seja nos azulejos, mobiliário ou ainda no atendimento cordial, que remete a uma São Paulo de outrora. No Ita não tem comanda. É peculiar a maneira em que os garçons, com um lápis de grafite 6B à mão, somam a sua conta sobre o mármore do balcão. Outra coisa que me surpreende por lá é o sabor do arroz com feijão.
Daqueles que dispensam até a própria "mistura". Feijão sempre fresco, caldo grosso. Parece comida de mãe. Não à toa, filas de clientes se formam na hora do almoço. Não há mesas no Ita, apenas banquetas distribuídas pelo histórico balcão em forma de "W". Assim, há um código de ética entre os clientes da casa. Quem já terminou seu almoço não faz cera. Cede o assento para o próximo felizardo.
A comida é farta e os preços cabem em qualquer bolso. O prato mais barato é o bife de fígado, que custa R$ 16. Já o sofisticado bacalhau à portuguesa é o mais caro, e sai por R$ 60. O mais pedido é o “Paissandu”: arroz, feijão, bife e ovo frito (R$ 20). O prato surgiu ainda na década de 1950, quando a casa servia apenas sanduíches.
Taxistas de um ponto vizinho começaram a pedir a combinação, que literalmente caiu na boca do povo. Fez a fama do local, e o Ita se transformou em restaurante de prestígio. Também é sucesso, o famoso pudim (R$ 5 a fatia). A receita vem da família dos proprietários e foi aprimorada pelo Seu Luís. Em suas anotações, ele afirma ter feito mais de 150 mil pudins ao longo de sua carreira no restaurante.
Luís, tem reclamado de dor nas pernas, afinal de contas são mais de 60 anos correndo entre cozinha e balcão. Mas nada disso o impede de oferecer um sorriso, boa conversa e umas das comidas mais gostosas da capital.
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