Biblioteca da Vivi

Quarentena literária tem obra-prima, raiva, racismo e luta de classe

Isolamento social dá chance aos clássicos, mas também põe bons lançamentos em foco

A filósofa Djamila Ribeiro
A filósofa Djamila Ribeiro - Bruno Santos-12.jun.2019/Folhapress
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São Paulo

Na última semana, em meio à pandemia, a primeira tradução do clássico “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1881) para o inglês se esgotou nos Estados Unidos. Mas, se o livro fez tamanho sucesso entre americanos, que terão de esperar mais uma edição para lê-lo, nós, brasileiros, temos o texto em domínio público em português na internet (www.dominiopublico.gov.br).

Pode ser uma boa oportunidade de conhecer a história de Machado de Assis (1839-1908) que dá voz a um defunto autor para narrar a corrupção e as imoralidades da aristocracia de seu tempo. Algo bastante atual, aliás.

Enquanto isso, a despeito da crise nas livrarias físicas, as editoras têm tido o bom senso de colocar obras úteis no mercado. Respeitando o isolamento social, elas podem ser compradas pela internet ou baixadas por quem o Kindle (ferramenta de download e armazenamento de ebooks da Amazon).

“Sinta Raiva” (Ed. Bestseller, 126 páginas, R$ 29,90), do próprio dalai-lama, ajuda a questionar e procurar significado para os pequenos rituais do dia a dia.e de nossas próprias emoções, como a ira, tão presente em situações de estresse e dor como a atual.

Outro tema intrinsecamente ligado à crise de costumes que o mundo atravessa é “Política e Educação” (Ed. Paz & Terra, 144 págs, R$ 49,90), também escrito por um grande mentor ao longo de 1992 e reunido em forma de coletânea novamente. Nos ensaios, Paulo Freire aborda a relação entre essas duas áreas e expõe seu reflexo na vida de toda a sociedade. Uma nota que atravessa os textos dá coesão e equilíbrio à obra.

Já “O Fim da Classe Média” (Ed. Record, 154 págs, R$ 59,90), de Christophe Guilluy, é o que possui mais referências contemporâneas, ao abordar conceitos polêmicos como a onda populista que elegeu Jair Bolsonaro no Brasil e Donald Trump nos Estados Unidos. Fala do desprezo da elite pelas classes populares e o desmanche da antiga classe média, resultando em profundo ressentimento.

“Quem Tem Medo do Feminismo Negro?”, da filósofa Djamila Ribeiro (Cia. das Letras, 120 páginas, R$ 20,93), por fim, é um manual antirracista que joga luz aos protestos ao redor do planeta em reação ao assassinato do ex-segurança negro George Floyd, no último dia 25, por um policial nos Estados Unidos. No livro, Djamila recupera memórias da infância e da adolescência para discutir o silenciamento ao que foi submetida pela opressão de ser mulher e negra.

‘A PESTE’ ATRAVESSA DÉCADAS COM LIÇÃO DE SOLIDARIEDADE

É assustador ler o clássico “A Peste” (1947), do argelino Albert Camus (1913-1960), no contexto da pandemia do novo coronavírus. Principalmente porque o livro, escrito nos anos 1940, pouco depois da Segunda Guerra Mundial, apresenta uma narrativa muito semelhante à da doença atual: a demora da descoberta, as tentativas de isolamento social, o agravamento dos casos, o papel da imprensa, dos médicos e até o impacto nos cemitérios.

Não é à toa. Antes de escrever a história, Camus estudou como foi desenrolar das piores pestes da humanidade, começando por casos anteriores à Idade Média. E a conclusão é a de que as grandes tragédias tendem a se repetir. Porém, se a dor e a angústia são sentimentos que se perpetuam, também há uma silenciosa celebração à solidariedade humana, que toma forma na figura do médico protagonista.

É evidente na obra que esse é o sentimento que motiva o escritor e que a salvação do homem está na compaixão e na empatia. Somente a partir desses elementos a sociedade seria capaz de ultrapassar a dor.

Mais vendidos

Ficção
1 “A Garota do Lago”, de Charlie Donlea (Faro)
2 “Box Jane Austen - 3 Volumes”, de Jane Austen (Martin Claret)
3 “Box Terríveis Mestres - 3 Volumes”, de Arthur Conan Doyle (Novo Século)
4 “Eleanor & Park”, de Rainbow Rowell (Novo Século)
5 “Box - As Grandes Histórias de Sherlock Holmes - 3 Volumes”, de Arthur Conan Doyle (Pandorga)

Não ficção
1 “Sapiens - Uma Breve História da Humanidade”, de Yuval Noah Harari (Publibook)
2 “Box - O Essencial da Mitologia - 2 Volumes”, de Herma Wilson (Aeroplano)
3 “O Dilema do Porco-Espinho”, de Leandro Karnal (Planeta)
4 “O Livro da Filosofia” (Globo Livros)
5 “A Arte da Sabedoria”, de Baltasar Gracián (Faro)

Autoajuda
1 “A Sutil Arte de Ligar o Foda-Se”, de Mark Manson (Intrínseca)
2 “Ansiedade”, de Augusto Cury (Saraiva)
3 “Mais Esperto que o Diabo”, de Napoleon Hill (CDG)
4 “O Poder do Agora”, de Eckhart Tolle (GMT)
5 “Quem Pensa Enriquece - O Legado”, de Napoleon Hill (CDG)

Fonte: Livrarias Saraiva (de 25 a 31.mai.2020)

Biblioteca da Vivi

Vivian Masutti, 35, é jornalista formada pela Cásper Líbero e bacharel em letras (português e francês) pela USP (Universidade de São Paulo), onde também cursou a Faculdade de Educação e obteve licenciatura plena em língua portuguesa. No Agora, é coordenadora da Primeira Página.

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