Eleição de Cacá Diegues à ABL é prova de que a literatura vai muito além da junção de palavras
'Vida de Cinema' traz bastidores do movimento do cinema novo
A discussão, desta vez frutífera, começou no grupo da família no WhatsApp, quando meu tio me questionou sobre o que eu achava sobre a eleição do cineasta Cacá Diegues, 78, como imortal da Academia Brasileira de Letras.
Foi no último dia 30, quando ele ocupou a cadeira do também cineasta Nelson Pereira dos Santos (que morreu em abril).
Logo respondi que sim, que, na minha opinião, as artes estão todas interligadas e, assim, uma bela narrativa visual, construída a partir de um roteiro e complementada por música é, sim, literatura.
O próprio presidente da ABL, o escritor Marco Lucchesi, qualificou Cacá (de filmes lendários como “Xica da Silva”, de 1976, e “Bye Bye Brazil”, de 1980) como um cineasta de olhar refinado para retratar as diferentes realidades brasileiras.
“Um dos mais premiados cineastas brasileiros, cuja obra lança um olhar profundo e generoso sobre nosso país. Crítico refinado, diretor reconhecido além das fronteiras. Sua entrada é uma homenagem ao saudoso Nelson Pereira dos Santos, de quem foi amigo, através das novas lentes que ambos construíram para ver mais longe a nossa realidade”.
Com mais de 20 filmes no currículo, Cacá ainda dirigiu “Joana Francesa” (1973), “Quilombo” (1984), “Orfeu” (1999) e “Deus É Brasileiro” (2003). Mas também publicou livros, nem sempre sobre cinema, a partir de “Ideias e Imagens” (1988). Entre eles, estão “Vida de Cinema”, sobre o cinema novo, e a coletânea de artigos “Todo Domingo”.
DICA DA COLUNA
“Vida de Cinema: Antes, Durante e Depois do Cinema Novo” (R$ 69,90, 696 págs., Objetiva), aliás, é uma boa obra para conhecer um pouco mais do trabalho de Cacá, a partir de uma leitura bastante agradável. Aí, sim, unindo o cinema às palavras.
O livro narra desde o momento em que o diretor vê o cinema pela primeira vez, aos cinco anos, em Maceió, onde nasceu. E explica o movimento do cinema novo, que buscou uma nova maneira de filmar e pensar o Brasil.
A obra foi escrita ao longo de sete anos e detalha bastidores da produção de seus filmes, além de relembrar algumas das polêmicas em que se envolveu. Faz um relato da história recente do país, passando pelo regime militar e pela redemocratização, a partir dos olhos do cineasta.
E dá conta de acontecimentos da vida pessoal, como os casamentos com Nara Leão (1942-1989) e Renata de Almeida Magalhães.
TEMA A NÃO SER ESQUECIDO
A eleição de Cacá teve maior repercussão pelo fato de que, com ele, estava concorrendo a escritora Conceição Evaristo. E ela poderia ter sido a primeira negra a virar imortal na ABL (composta majoritariamente por brancos). Para isso, contou com uma campanha na internet que teve 25 mil assinaturas.
Mas Conceição recebeu apenas um voto.
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