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Cinema e Séries

Colecionadores viram críticos mais intransigentes de 'Barbie': 'Figurinos parecem feitos à mão'

Exigentes, fãs da boneca criaram altas expectativas para o filme, e nem todas foram atendidas

Algumas das Barbies da coleção de Jian Yang - @jianyang1979 no Instagram
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Esther Zuckerman
The New York Times

Antes de ir assistir a "Barbie", a colecionadora de bonecas Laura Maar já fazia suas reservas ao filme. Com base nas primeiras imagens, Maar não gostou do jeito que o filme retratava a amiga grávida de Barbie, Madge (sua favorita pessoal) ou Allan, o amigo de Ken que pode usar todas as roupas deste. "Me irritava o fato de ele ser esse personagem hipócrita no filme, porque ele não é assim, não mesmo."

Maar ainda estava analisando o que havia visto na primeira vez que foi ver o filme, dirigido por Greta Gerwig, quando foi vê-lo uma segunda vez. "Mas na segunda vez eu realmente adorei", disse a professora de pré-escola de 49 anos, que vive no sul da Califórnia. "Tentei deixar meus questionamentos de lado. Depois, com a semana avançando, quando as pessoas não paravam de perguntar ‘quer assistir ao filme?’, comecei a responder, ‘claro, vamos lá’." Quando conversamos, Maar já havia assistido a "Barbie" cinco vezes e planejava ir mais uma vez.

"Barbie", estrelado por Margot Robbie, virou um fenômeno inequívoco, arrecadando US$ 1 bilhão (quase R$ 4,9 bilhões) nas bilheterias e inspirando os espectadores a trajar seus melhores modelitos cor-de-rosa. Mas colecionadores como Maar já eram fãs de Barbie muito antes disso. Eles possuem centenas ou mesmo milhares e bonecas e tinham grandes expectativas em torno da estreia de sua estrela em um filme de live action. Conversei com dez colecionadores (muitos dos quais apareceram para nossas entrevistas por vídeo usando acessórios rosa choque de Barbie e expondo suas bonecas com orgulho) para descobrir se o filme foi aprovado por esse grupo de fãs altamente exigente.

Para Liliana Saldaña, 36 anos, professora de inglês em Laredo, Texas, que calcula que possui mais de 400 Barbies, "foram golpes emocionais por todo lado". Ela contou que saiu do cinema com a maquiagem borrada de lágrimas. "Gostei demais porque houve muitos momentos de reconhecimento às pessoas que são fãs da Barbie há anos."

Taylor Brione Ballaqrd, 31 anos, planejadora de eventos de Houston que possui 350 bonecas, disse que o filme a deixou às lágrimas. "A garota sentada ao meu lado me disse: ‘Menina, a gente ouviu você chorando’." Ballard, que coleciona principalmente Barbies negras, explicou que sempre se sentiu inspirada pela boneca e que o filme "realmente destacou por que as pessoas podem gostar da Barbie, que figura inspiradora ela é, como ela é um símbolo do empoderamento feminino."

Outros colecionadores viram suas próprias experiências refletidas de volta a eles. No filme, descobrimos que não é uma garotinha quem está brincando com a Barbie principal, mas uma mãe (America Ferrera) cuja filha já deixou a boneca para trás. Os humanos acabam acompanhando Barbie em sua jornada de autodescoberta.

"Sabe, se o fato de eu pentear o cabelo da Barbie e apresentar as pessoa a ela me deixa de coração e alma mais leves, não há nada de errado nisso, há absolutamente zero de errado com isso", comentou a cantora de ópera Beth Largent, 61 anos, do Massachusetts. "Para mim, essa foi uma das grandes mensagens do filme: que as pessoas reais parecem ser transformadas por sua interação com Barbie. E é isso que a Barbie deu a mim também."

Roland Moreno, 31 anos, começou a colecionar as bonecas cerca de três anos atrás, quando estava vivendo em Chicago. Por meio da Barbie ele conheceu Matthew Keith, que hoje é seu namorado, e por conta disso se mudou para Los Angeles. "Barbie é como uma válvula de escape", disse Moreno. Refletindo sobre a personagem de America Ferrera, ele comentou: "Ela queria escapar da situação triste em que vivia. Para mim também, eu quero escapar de minha situação."

Moreno ergueu uma Barbie que havia vestido como Nicki Minaj (que aparece na trilha sonora do filme), dizendo que é um exemplo da alegria que Barbie lhe dá. Ele havia levado a Barbie Minaj ao cinema na noite anterior e ela participara de um vídeo pós-sessão do filme que Keith e outro amigo orquestraram com suas bonecas.

Moreno gostou dos "presentinhos" que Gerwig inseriu para os colecionadores, como uma ponta da Skipper que desenvolveu seios e uma mensagem de texto na tela incluindo os nomes reais dos conjuntos do guarda-roupa de Barbie. "A primeira coisa que pensei foi ‘bacana!’", ele disse. "Mas depois pensei também ‘agora o preço disso vai subir’." Vários colecionadores com quem o New York Times falou também apreciaram a referência ao boneco colecionável cancelado conhecido como "Sugar Daddy Ken" (seu nome na realidade era uma alusão ao fato de seu cachorro ser chamado Sugar).

Mas alguns colecionadores fizeram ressalvas. Jian Yang, marqueteiro de 43 anos de Singapura que tem 12 mil bonecas, disse que os figurinos "pareciam coisas feitas à mão, não coisas da Mattel". Tanto Maar, que trabalhou para a Mattel mais de 20 anos atrás, quanto Keith, 55 anos, rejeitaram o modo como a criadora da Barbie, Ruth Handler (Rhea Perlman) é retratada como uma guia espiritual gentil de Barbie (Margot Robbie). "Ruth nunca foi uma pessoa com jeito de vovozinha", disse Maar. Handler morreu em 2002. "Era super durona."

Esses aficionados da Barbie também teriam preferido ver menos mundo real. Afinal, se você se sente atraído pela Barbie graças à fantasia, o mundo real é um pouco decepcionante.

"Eu me senti muito mimada pela Barbie Land", comentou Saldaña, e Lindsey Walker, 27 anos, que trabalha com direitos civis em Washington, teve uma reação semelhante. "Cada vez que eles iam para o mundo real, eu não via a hora de voltarem para a Barbie Land, porque era muito mais interessante e bonita."

Também foram feitas críticas mais significativas. Walker elogiou a diversidade do elenco, mas teria gostado se Issa Rae e Ncuti Gatwa, dois dos nomes negros do elenco, tivessem tido mais tempo na tela. Ele também criticou o modo como os temas feministas foram tratados: "No geral, penso, uma mulher branca escreveu isso, e também pode haver algumas pessoas que sabem pouco sobre o feminismo e podem aproveitar alguma coisa deste filme, então vou simplesmente aceitá-lo como ele é."

Yang, por outro lado, não gostou da trama envolvendo os Kens, que, liderados por Ryan Gosling, descobrem o patriarcado e o levam de volta a Barbie Land. "Acho que não é preciso mostrar o desempoderamento masculino para mostrar o empoderamento feminino", ele disse. "Foi divertido, mas não gostei do fato de todos os Kens serem ‘himbos’ [homens bonitos, mas superficiais]."

Mas Yang disse que sempre pensou em Ken como um dos acessórios de Barbie –uma opinião compartilhada por muitos e ironizada no filme—, e Walker, cuja coleção enfoca principalmente bonecos Ken, curtiu a história de Ken. Para Saldaña, a trama de Ken aumentou seu interesse pela contraparte masculina de Barbie. "Me deu vontade de começar a colecionar Kens", ela disse. "Até comecei a respeitá-los um pouco mais."

Saldaña espera que o filme leve a um aumento dos objetos colecionáveis ligados a Barbie e que a boneca seja tratada pelos varejistas com o mesmo apreço que eles dedicam ao Homem-Aranha, por exemplo. "As pessoas encaram a Barbie como hobbie de garotas", ela disse. "Não é algo que seja realmente respeitado e que receba a atenção que merece."

Moreno deseja também que a popularidade do filme convença outras pessoas a abraçar sua paixão. Às vezes, quando ele e Keith fazem vídeos com Barbies, contou, são xingados. "Seria bom se as pessoas ficassem mais tolerantes, se pensassem: ‘Oh, que bacana, é como o filme, estão fazendo fotos de Barbies ao ar livre’."

Ele pretende assistir ao filme pelo menos mais uma vez, e Maar cogita em talvez vê-lo pela sétima vez.

"Para colecionadores e fãs de Barbie, este é um momento que não vai se repetir", ela explicou. "Então quero curtir este momento e assistir ao filme quantas vezes eu puder."

Tradução de Clara Allain

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